sábado, 16 de junho de 2018

O preço do tempo

Mais uma vez ela observa a lenta transição do dia que se despede para a noite que se aproxima, como num balé as cores fracas se misturam no céu de inverno. Ali parada próximo a porta, naquele fim de tarde gelado, por um instante em meio a correria diária, como que acordada brevemente do seu transe pessoal se vê refletindo sobre a brevidade da vida. Percebe que é inevitável tentar conter o questionamento que sempre vem à tona com força sobre-humana nesses momentos... Qual o sentido da vida?
Naquele aniversário chuvoso sentou-se na no banco frio da praça e sob sua árvore favorita se perguntou porque sempre fazia tudo errado... porque não havia sido suficiente? Agora, observando o sol se pôr entre aquelas grades... torcia para que tudo fizesse sentido um dia.
Pensava no preço do tempo e no quando ele é implacável, sabia o quanto a responsabilidade exigia e se perguntava como manter um equilíbrio aceitável entre viver e sobreviver. Sem perceber, enquanto pensava o tempo já escorria por entre seus dedos.
Naquela decisiva tarde cinzenta entrou numa igreja, sem forças e aos prantos rezou para que, embora não fosse suficiente houvesse misericórdia. 
Quando nos tornamos adultos, algumas decisões a serem tomadas não parecem justas e,  parece mesmo que somos todos crianças assustadas afinal; todas interpretando um papel assumido sem instruções, uns escondendo melhor que outros seus medos porém, cada tentando seu melhor... 
Definitivamente é uma geração que não foi feita para envelhecer... fomos criados como desbravadores porém, mais tarde ensinados que a juventude era a resposta, que a sabedoria de nossos antepassados não valia nada e se negar à responsabilidade significaria que não precisaríamos tê-la. Fomos tão devastados por ensinamentos equivocados que nos permitimos ser invadidos por crenças e ideologias que nos levaram para longe da sensatez... para longe de qualquer lugar onde se pudesse encontrar algum tipo de equilíbrio. No desespero de ser, na expectativa preencher e dar sentido à essa existência vazia recorremos à satisfação temporária de toda sorte de futilidades. Viemos tão puros e cheios de potencial mas, de alguma forma fomos arruinados... eramos tão capazes que fomos sabotados antes mesmo de saber disso.
Após um longo suspiro de olhos fechados repete para si mesmo que enquanto quem tem esperança "espera" que algo aconteça, quem tem fé tem a certeza de algo acontecerá. Por isso continua tentando, porque tem objetivos que vão além de si mesmo, porque apesar de machucada e ferida ainda se arrasta e torce para que o fato de continuar a leve à algum lugar; um lugar onde finalmente seus machucados serão tratados e então saberá de fato se sua missão terminou ou se apenas começou.