domingo, 26 de agosto de 2018

A miséria de não ser

Apesar de desconhecer a realidade das gerações anteriores, especulo que nunca se viveu em uma época onde se tem tanto e não se tem nada. Tão cheios de certezas e razões... tão vazios de valores e moral... ó como somos miseráveis!
Tão fartos de potencial e capacidade... tão desprovidos de sentido real e objetivo...
Gastamos todo o nosso tempo e energia correndo atrás de coisas que não nos acrescentam, coisas que vamos usar para sermos aceitos pela sociedade, coisas que usamos pra tentar suprir nossa necessidade de ser, de sentir... Coisas que deixamos de lado no minuto seguinte após conquistar.
Possivelmente a libertação real consiste em se desvencilhar da expectativa dos outros. E porque não reavaliar a sua própria?
Que desafio é esse...o de viver!
Temos seguido diariamente como bonecos de corda, sendo alimentados pelo ódio, pelas disputas, pela necessidade de provar algo... em buscas fúteis e sem significado real, resumido à uma procura incessante pelo "não se sabe o que". Nos cercamos das mais diversas frivolidades, numa fuga contínua para longe da culpa, da falta de aceitação, da solidão.
Aos poucos a vida vai esmaecendo, reduzida à contínuos e extenuantes jogos de poder, relacionamentos superficiais de interesse puro e simples, e rotinas sem significado.
Temos sido o melhor exemplo de ser humano que podemos ser? Talvez haja uma predisposição genética não sei, mas a convivência nessa sociedade mesquinha faz com que acabemos por nos envolver e nos contaminamos com as mesmas práticas que abominamos, por fim nos tornamos cada dia mais as referências que detestamos, sem nos dar conta disso. Numa corrida alucinada em busca de redenção - completamente perdidos - nos direcionamos em velocidade terminal rumo ao abismo.
Quem sabe compreender o sentido da vida seja concluir que ele não existe e, aceitar isso pode ser libertador. Finalmente admitir que todo esse sofrimento... toda esse rotina em busca do ter...do ser... nada disso tem mesmo cabimento.
Afinal, parece que estar ou não aqui, não faz diferença. Essa rotina alucinada vai continuar sem você e sem mim e, após duas gerações, ninguém se lembrará que passamos por aqui.
É difícil assumir que provavelmente as pessoas amadas ficarão melhor sem sua presença questionadora, sem seu flerte constante com a escuridão, sem sua alma inquieta, inconstante e desordenada, e que a paz interior que procura, só diz respeito à você.