quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O Verdadeiro Rei

O que é o futuro se não um caminho que ainda não divisamos e sobre o qual ansiosamente tentamos projetar nossas vidas? Perdemos anos fazendo planos e calculando variáveis que deixariam nossos passos mais seguros. Investimos tempo e esforço em meras suposições, iludindo a nós mesmos sob a possibilidade de um controle, quando na verdade não há nenhum. Pergunto então, como seria viver sendo uma exceção à regra, não sabendo o que amanhã nos reserva, como seria viver plenamente cada momento sem pensar no seguinte?
Se permitir ser quem é realmente, tomar as rédeas de sua vida ou simplesmente soltar.
Observando animais em uma selva lutando pela sobrevivência percebemos o quanto o ciclo da vida segue seu curso natural mesmo sem regras explícitas, sem definições de certo ou errado, são guiados somente pelos seus instintos.
Vivemos em sociedade e, é óbvio que algumas convenções são necessárias mas, até que ponto realmente devemos nos submeter e reprimir quem somos, nossos impulsos primitivos... forçar o enquadramento em um modelo no qual não acreditamos e do qual, por mais que tentemos jamais faremos parte?
O perigoso leão sendo rei de si mesmo, acaba por ser admirado e respeitado pelos demais. Não há remorso, nem culpa... Somente o que lhe é natural, isso é o que ele é.
Seguir a corrente? Jamais! Só se for no sentido contrário, ao encontro de si mesmo, contra tudo e todos... Criando o próprio fluxo baseado no que sente e acredita, independente do que diz a sociedade com seus conceitos previamente formados, pensados por sabe-se lá quem.
Há sem dúvida uma energia que atrai magneticamente o que lhe é semelhante então, porque não encarar as coisas por ângulos outrora inexplorados? Fazer diferente com o que já temos conquistado? Criar uma realidade paralela à tudo que é predeterminado?
É necessário coragem, audácia e ousadia pra aceitar quem se é e trabalhar ou não em cima dessa questão afinal, a verdadeira liberdade está em não trair a si mesmo nesse ideal.

domingo, 25 de setembro de 2016

Incertezas

O que será que tem lá, no futuro? Quando será que tudo passará a fazer sentido de fato? Será que há algum?
O desconhecido... A adrenalina de sentir sem saber explicar, é extremamente atraente e, quem disser ao alcoólatra que ele é obrigado a ficar limpo só vai fazer com que a abstinência pegue mais forte. Ele tem que querer ficar sóbrio e, as vezes por mais irracional que pareça, o melhor a se fazer é tranca-lo na adega e, esperar que ele saia sozinho.
Quanto tempo será que levamos para conciliar corpo e alma? Quantas vidas serão necessárias para compreender a missão no caminho da evolução? Já falta a capacidade de traduzir em palavras os sentimentos que inundam corpo e mente. Oras uma apreensão terrível sobre o futuro, oras paz e tranquilidade acalmam o coração com uma frieza assustadora. Pra que o pé no chão nos momentos em que pode se permitir voar?
Tantos planos e ao mesmo tempo tanta incerteza, tantas pessoas e ninguém, tanto de si e nada ao mesmo tempo...
Razão e emoção voltam a duelar com especial força nesse dia... E por alguns segundos flerta com a solidão... Haveria alguma redenção para o Frankenstein?
Podemos conviver por anos à fio com as pessoas e elas conosco e não sabermos nada umas sobre as outras, tampouco quem poderemos ou não se tornar com o decorrer do tempo. Cada escolha, cada decisão, as vezes um simples passo pode mudar toda uma trajetória.
Ninguém é o mesmo a vida toda, as pessoas mudam e nem sempre é pra melhor... as vezes as pancadas que a vida dá, torna os indivíduos mais frios a cada dia, insensíveis, egoístas... Quem olha de fora não consegue enxergar por baixo da casca então, só podemos desejar com todas as forças que aqueles que amamos compreendam de alguma forma e permaneçam ao nosso lado.

sábado, 24 de setembro de 2016

Little Wing

A busca por conhecer a si mesmo é uma tarefa tão árdua que, muitos escolhem permanecer na inércia. Conhecimento demanda ação e, o movimento requer um esforço extremo de disciplina.
Nunca se saberá o suficiente, há sempre algo novo a se aprender, descobrir! 
Dinamismo proveniente da energia põe uma certa ordem no caos, pelo menos interior.
Já dizia o sábio "há mais coisas entre o céu é a terra do que pode supor a nossa vã filosofia"; não é em paz que aceitamos que nem todas as pessoas tem essa necessidade inquietante do novo, ter que aprender a respeitar esse espaço nas pessoas que amamos. Somos poucos e, presos pelas normas da sociedade fazemos coisas horríveis contra nós mesmos dia após dia, na tentativa de se adaptar aos padrões impostos. Cercados de julgamentos e rótulos por todos os lados, tentam nos afogar num mar de hipocrisia.
Mas felizmente há um ponto no caminho... uma fase lenta e progressiva de descoberta e libertação, um momento quântico onde você finalmente reconhece quem é... onde se revisam todos os conceitos já existentes, onde a viagem interior fica mais intensa. Esse encontro demanda redefinições completas, validações de como se tem vivido até o presente e quais os planos para o futuro; não, não acredito que se tenha respostas imediatas, até porque algumas questões são resolvidas apenas vivendo, outras questões não demandam ação e sim a ausência dela para que tudo siga seu fluxo da maneira que tem que ser, as demais jamais encontraremos porque não nos diz respeito desvendar todos os mistérios que envolvem a existência.
Quando há certa paz interior, todas as coisas parecem convergir para uma consciência suprema que nos põe em contato com a energia que rege o universo... Não existem coincidências!
Todas as coisas acontecem por algum motivo, alguns chamariam de destino ou karma, importante é saber reconhecer as transmissões nos detalhes do cotidiano. 
A vida está em constante processo de ensino e cabe somente à nós decidir como iremos reagir ante aos desafios que ela nos propõe. Nem sempre os resultados do aprendizado serão como esperamos e, em alguns casos podemos nos descobrir pessoas pelas quais não temos nenhuma admiração; ainda assim, saber quem se é pode ser um renascimento que abre um leque de novos caminhos inexplorados como oportunidade. A via que leva ao autoconhecimento é longa, sinuosa, cheia de obstáculos; tem dias de neblina e também de sol radiante e, apesar de todas essas características ainda consegue ser maravilhosa e gratificante.



terça-feira, 20 de setembro de 2016

Hundred

Ela caminha lentamente, seus pés descalços tocam a grama verde ainda um pouco molhada pelo orvalho da manhã com a leveza de uma pluma, seus cabelos se movem ao vento como que embalados por uma sinfonia inaudível, a brisa toca seu rosto acariciando sua pele macia e, cada raio de sol envolve seu corpo em um abraço silencioso.
Ao abrir os braços sente-se livre e o tempo, respeitosamente lhe convida para dançar, após um ou outro giro, o tempo pára por alguns instantes e lhe faz revelações sobre as quais ela ainda não tinha muita consciência. Depois de muito pensar que viver, no sentido pleno da palavra seria errado, ouve gentilmente ele explicar que talvez, apenas a forma como temos vivido é que não faça muito sentido. Parado, do alto de sua sabedoria ensina que não há respostas para tudo e que, talvez nem valha a pena buscá-las.
Então porque se afligir com o que está fora de nosso alcance de fazer diferente? Cada ser é singular em suas características e particularidades.
Ela segue rumo ao seu destino e, próximo à uma árvore frondosa, se depara com um espelho velho jogado no chão à margem do caminho... Sendo levada pela energia que compõe seu momento, se olha demoradamente no espelho e, por incrível que pareça ele olha de volta... Se vê ali despida de si mesma, seu reflexo sorri e a faz entender que por mais egoista que sejam suas atitudes, a maldade nunca está presente; que apesar de tudo se pode encontrar gratidão por estar vivo... Que a aventura de ser pode trazer muita satisfação à aqueles que ousam se arriscar.
Arriscar quem são... Questionando suas bases... Pondo em xeque suas próprias vidas pra sentir o sangue correndo pelas veias, os neurônios alvoroçados, o coração com aritmia quase que em colapso pelo vício.
Quem poderá tentar qualquer julgamento? Aqueles que nada sabem sobre estar vivo mas, detém o conhecimento pleno da rotina vazia que os sufoca? Socialmente atacados todos os dias, não sabem quem somos mas, procuram de todas as formas fazer com que todos se enquadrem em seus moldes sujos e infelizes.
Perdida em seus pensamentos, ela repousa o espelho ao seu lado e senta à beira do caminho... Não sabe pra onde vai mas, se sente um pouco mais esperançosa para continuar procurando.
Deita-se na grama com os braços atrás a cabeça contempla o céu azul e, com uma lágrima contida no canto dos seus olhos, deseja intensamente ser ela mesma, embora não saiba ainda completamente o que isso significa.


sábado, 17 de setembro de 2016

Two months ago

Ninguém iria esperar que, um dia como qualquer outro seria o gatilho que iniciaria o maior processo desconstrução de sua vida.
Ele nunca vai saber dizer exatamente porque sentiu com tanta força o impacto; era apenas uma visita à alguém que há muito não via e, em questão de segundos se viu cercado pelo passado e futuro ocupando o mesmo lugar no presente. Recebeu uma pancada tão forte de realidade que o levou a nocaute.
Difícil descrever como é estar num vórtice temporal. Flashes do passado contrastados com a cruel verdade do presente, trazendo sobre ele uma insegurança descomunal e inúmeros questionamentos sobre o futuro e o real sentido da vida.
No momento em que não formos mais úteis à sociedade, qual será nossa função? Quantas gerações mais lembrarão nossa existência quando acabar por aqui?
Tudo que ele viveu, suas histórias, suas memórias... quando se for... tudo se perde! Então... qual o sentido?
De que servem as experiências se não há com quem compartilhar? Qual a função do indivíduo? Ele se recusa terminantemente a aceitar que seja apenas isso. A vida por si só é grandiosa porém, perde o sentido se não fizer parte de algo maior. 
Muitas pessoas vivem no modo automático sem questionar uma vez sequer o fluxo que estão seguindo; seriam estes medíocres ou abençoados? Nascem, crescem, "amam" e quando morrem, em pouco tempo já são esquecidos... Na geração seguinte, apenas um ou outro pensamento pode conter sua imagem ou remeter a alguma história...
Esse homem não é assim, ele se questiona de forma incessante e não se contenta com as respostas evazivas, sempre foi assim! Busca com um insuportável afinco saber quem é e qual seu papel nesse teatro de trouxas.
Depois daquele fatídico dia, o pouco de autocontrole que existia foi por água abaixo e por vezes o que quer mesmo é se entregar.
Cogita mesmo a possibilidade de estar doente, um desequilíbrio químico diriam, ele sabe que não é tão simples. As coisas foram desmoronando uma a uma dentro dele até não restar nada; estaria sendo desmanchado pra ser refeito? Gostaria muito de acreditar.
Como uma doença que se espalha de forma lenta e silenciosa, destruiu gradativamente seu sistema imunológico, o deixou completamente sem defesas, não entre a vida e a morte mas, o passado e futuro.
Agora ele já sabe de onde veio porém, se não descobrir rápido pra onde vai será seu fim. Desta vez só ele poderá salvar-se de si mesmo e, esta batalha promete ser longa e dolorosa.



O enigma de ser

Qual é o seu motivo? Para levantar todos os dias, seguir sua rotina... O que te faz querer voltar para casa todas as noites? O que te põe em movimento?
O que você sente cada vez que guarda seus problemas nos bolsos pra poder ajudar alguém? Qual a sensação quando não há o caminho inverso?
Você sabe as respostas, isso te incomoda?
O que te motiva a levantar após cada queda e seguir em frente apesar das feridas, do cansaço...da dor? O que pensa ao passar despercebido ou ser notado negativamente?
Quem é você que, não se importa com quase nada e mesmo assim sente as dores do mundo dentro de si? Como consegue ter uma frieza que assusta e por vezes uma sensibilidade angelical?
Você sabe as respostas, o que te faz sentir vivo?
Os dias passam...
Você pode perceber que tem algo errado? Não vê como só há uma razão pra guerra não ter acabado? 
Não há nada além de um único e muito específico sentido pelo qual as armas ainda não foram depostas.
Porque continua lutando? Porque não desiste?
O que te proporciona paz? Pra onde corre quando a angústia te inunda e procura de todas as formas te afogar? 
Onde está sua segurança, a razão pela qual ainda está de pé? Quais seus motivos pra manter esse sorriso no rosto enquanto seu coração bate mais devagar?
Quem é você e o quer?...
Porque não aceita o mundo como todos dizem que ele deve ser e desiste de procurar pelo que vê? Porque ainda investe energia no combate? Não vê que caminha por sendas onde muitos já se perderam sem chance de retorno?
Vejo você mergulhando cada vez mais fundo em si mesmo, e perigosamente em contato consigo mesmo...
Gostaria de responder à alguma dessas perguntas em voz alta?

domingo, 11 de setembro de 2016

Buscando o equilíbrio

Viver demanda tanto esforço... cada milésimo de segundo à calcular variáveis, tentando conciliar quem somos, o que queremos e o bem estar daqueles que amamos. Qual seria a forma correta de agir sem levar em conta o que a sociedade tem por "correto"? Até que ponto as definições existentes de certo e errado podem ser levadas em consideração? O que de fato tem importância em nossas vidas?
Um anjo bom e um demônio, ambos sentados um em cada lado de seus ombros procurando influenciar da maneira que lhes convêm. Até onde nossas consciências estão limpas permitindo um juízo sem contaminação? E, como diferenciar a imparcialidade do egoísmo?
Poderíamos renunciar à tudo por amor? Conseguiríamos fazê-lo? Qual é o limite para não magoar aqueles que não hesitam em se doar pra que sejamos felizes? Haveria um? Sacrificam a si mesmos em prol de outrem e nos acompanham em cada passo, seja ele qual for e, não merecem alguma espécie de "compensação"? O amor que desprendemos seria suficiente para os manter seguros? Sim! É amor! Só foge aos padrões comuns existentes.
Quando se tem traumas tão profundos que praticamente definem uma história, não há muito espaço aberto a interpretações, é uma doença e precisa ser tratada. Qual seria então o tratamento eficaz para o alcoólatra? Até porque, deixar uma garrafa de vodka ao seu dispor e esperar que por bom senso ele se controle, não parece ser uma opção válida.
Poderiamos ainda ensina-lo a beber e ajudar mantendo-o em ambiente controlado ou esperar que morresse de abstinência; de qualquer forma não parece haver uma cura definitiva. Ações paliativas podem vir a ser uma alternativa já que mesmo em dosagem reduzida ainda fazem as "inas" necessárias circularem devidamente pelo organismo levando o sangue a pulsar mais forte.
Será que há alguma explicação racional pra tudo isso? Acredito que não, porém aceitar o que achamos que somos não nos torna menos insensíveis e, menos incapazes de nos colocarmos no lugar do outro. Sem pensar nas consequências ou apenas ignorando propositalmente os riscos, apostamos muito mais do que estamos dispostos a perder, somente pelo prazer proporcionado ao corpo por um cérebro viciado.
Já considero seriamente a hipótese de Jekyll and Hyde não serem apenas uma peça de ficção; quem poderá salvar aqueles que amamos de nós mesmos? Caçadores que tem por hábito brincar com a comida; Extremamente auto destrutivos pois isso é o que rende a emoção de estar vivo.
Difícil divisar a enxurrada de sensações que vão pelo corpo dos pensamentos racionais propositalmente inseridos pela mente com a clara intenção de provocar o caos.
Definitivamente não vejo uma explicação razoável que não desequilíbrio químico em estágio muito avançado pois, não existem motivos além deste.
Em rápidos momentos de lucidez quando em crise, tentamos desesperadamente ajudá-los a se defender mas, pouco ou quase nada pode ser feito. Pois o vício faz com que o cérebro reconheça que estamos tentado manipula-lo e mais que depressa reassume o controle.
Qual seria então o tratamento mais adequado? Até que ponto, queremos de fato ser tratados? E, o que disso realmente somos?



quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O Vício de Viver

Devem haver outros, em algum lugar deve  haver! Viciados¹ com a alma jovem e espírito livre que, desejam arriscar-se viver de verdade apesar das regras e convenções. Ousar sentir o sangue correndo pelas veias alheio à rotina e segurança, só pelo prazer de sentir o pulso mais forte.
Ao que parece, praticamente todo os outros vícios são de alguma forma aceitos ou tolerados pela sociedade mas, esse não. Quase como que, ressentidos por não ter a ousadia de provocar uma descarga de adrenalina sobre a própria existência, os rotulam de "insensatos" teimam em dizer que pessoas assim não merecem respeito e nem amor; porém, se revelarem quem são na realidade o mundo não poderia compreender a pureza de suas almas e nem a força de seus corações. 
Não é possível que ao terminar a produção de uma única peça se tenha jogado a forma fora; o mais provável é que estejam todos envolvidos em sua própria rotina, como que em transe, aguardando uma faísca de vida que os traga à consciência quem verdadeiramente são e o que, apesar de esquecido ainda podem sentir.  .
Tantas nuances, tantas características distintas juntas formando uma personalidade praticamente única... Devem haver outros, em algum lugar deve  haver! 
Por vezes a vontade de fugir, se esconder se sobrepõe à qualquer necessidade de socializar com pessoas que não sabem apreciar nossa companhia.
Tantas críticas, tantas acusações, tantos julgamentos... Fica difícil saber quem está do nosso lado quem não. Compreender que nem todos são o que se espera e, aprender a lidar com isso faz parte de uma grande evolução; pra lidar com esses seres 'domesticados' por opção é preciso muita coragem e respeito, além de amor e sobretudo confiança. A liberdade caminha sim de mãos dadas à responsabilidade mas, até onde  um viciado consegue ser prudente e cauteloso? Apenas se ele não desconfiar que o que sente é crise de abstinência.
Tudo seria mais simples se as pessoas fossem mais sinceras sobre o que esperam ou não das outras... o que me leva a questionar em qual ponto da história convencionou-se que a mentira seria a base de sustentação da sociedade. Uma vida procurando a melhor maneira de ser aceito e se encaixar no que ela demonstra esperar que sejamos. Difícil mesmo é saber porque apesar de corrompida constantemente exige a verdade quando não pode lidar com seus variados aspectos.

¹dopamina, adrenalina, serotonina, endorfinas e ocitocina



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

If tomorrow never comes...

E, se tudo que ele tem fosse tirado de súbito sem o menor indício de aviso prévio? E se um dia ele acordasse pela manhã sem saber que nesse dia perderia tudo que tinha? 
O que faria se tivessem lhe dito que após aquele dia nada mais faria sentido e que todos os planos que projetou virariam apenas fúteis pensamentos ao vento?
Em horas tudo ao que sempre deu valor não passaria de simples lembranças num passado longínquo e sem nexo. As horas de trabalho, o tempo que gastou consigo mesmo, o dinheiro que investiu ou desperdiçou, as noites mal dormidas, os passeios que não realizou, a atenção que não despendeu quando solicitada... todas essas coisas viriam à tona e, como um refluxo forte o faria por pra fora em forma lágrimas, grito e desespero toda a dor de não ter dado a devida importância ao que realmente lhe era relevante.
Se tivessem o advertido de todo sofrimento pelo qual passaria sem nenhuma possibilidade de fazer diferente? Se houvessem proporcionado uma chance será que ele teria agido de outra forma?
Estaria decidido a reorganizar sua escala pessoal de valores e recomeçar do zero num dia qualquer por um motivo que só ele conhece? Seria capaz de ser tão egoísta à ponto de pensar nos demais para preservar a si mesmo? Quantas mudanças estruturais ele realmente estaria disposto a fazer para preservar o que lhe é de mais precioso? 
Sim, no final daquele dia ele iria desejar não ter nascido e imploraria pela morte para não ser obrigado a suportar tamanha dor.
Mas, na noite anterior sem que soubesse como e nem porque, foi em sonho levado à um lugar onde todos essas possibilidades eram uma realidade cruel e definitiva. Acordou suado, chorando em desespero, sentindo a dor de ter visitado um futuro no qual não havia imaginado poder existir; um futuro onde o vazio e a tristeza se misturavam para dar lugar à um buraco negro que sugava todas as suas energias ininterruptamente.
Passou o dia suplicando para que seu sonho tenha sido um alerta e que, de fato nada esteja escrito, nada que ele ainda não tenha tempo de mudar.

domingo, 4 de setembro de 2016

Detalhes

O modus operandi da vida é realmente interessante, no exato instante que o mundo começa ruir sob nossos pés e ameça nos engolir com voracidade, nesse mesmo momento lhe vai sendo proporcionado situações que fazem com que a dor seja amenizada, pelo menos em partes. Sadismo ou cuidado, quem pode definir ao certo a maneira como trabalha nos caminhos que ela já previu? Cada detalhe parece minuciosamente pensado dentro de cada escolha que fazemos.
Inesperadamente um sorriso sincero, um olhar de ternura, um bom papo, um abraço silencioso... podem ser considerados sinais de que alguém se importa de alguma forma, que você não está completamente só e, devem ser observados com maior atenção. Situações inusitadas iluminam nosso dia, provocam um sorriso tímido no canto da boca e de maneira inexplicável aquecem o coração trazendo de volta um pouco da esperança que foi abatida. 
A única certeza absoluta é que tudo tem sua razão de ser. Quantas vezes não nos questionamos por estar vivendo determinado momento ou estar passando por uma fase mais delicada da vida? Fato inegável é nada acontece por acaso, todo o conhecimento e experiência adquiridos revelem-se extremamente úteis quando menos imaginamos ser possível ou necessário. 
Quem nos tornamos após cada batalha vencida pode ser o destino nos moldando pra cumprir a missão que nos foi designada, ainda que não saibamos qual seja ela. 
As pessoas mudam, os cenários também, porém cada peça está em disposição estratégia no tabuleiro dessa hábil jogadora. Quanto mais questionamos menos respostas ela nos dá, como quem se diverte com nosso desespero e falta de preparo, por isso quando aceitamos com resignação que nem tudo está sob nosso controle, as coisas começam a fluir de maneira simples como se seguisse seu curso natural no qual tentamos tanto interferir. 
Cada passo que damos apesar das adversidades, dos conflitos internos, do espírito inquieto nos levam rumo ao desconhecido e cada vez mais próximos de fazer escolhas em sintonia com nosso destino. 
Quando conseguirmos de forma definitiva aceitar que a vida não trabalha com coincidências e que cada movimento está harmoniosamente orquestrado, estaremos preparados pra descobrir os segredos de nossa existência e completar a missão que nos foi proposta seja ela qual for.

Assovio

Ninguém abra a sua porta
para ver que aconteceu: 
saímos de braço dado, 
a noite escura mais eu. 

Ela não sabe o meu rumo, 
eu não lhe pergunto o seu: 
não posso perder mais nada, 
se o que houve já se perdeu. 

Vou pelo braço da noite, 
levando tudo que é meu: 
- a dor que os homens me deram, 
e a canção que Deus me deu. 

(Cecília Meireles)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A Resposta

Quando se tem por hábito trabalhar com a verdade, a primeira impressão que temos é que a dor é potencializada. De fato isso acontece mas, apenas num primeiro momento, depois disso se torna mais simples conseguir analisar por completo a situação de forma mais racional.
A resposta finalmente foi descoberta, respondeu à todas as perguntas que um dia já foram feitas e as substituiu por uma só: "Quem sou eu?" Tudo agora gira em torno desse questionamento, se o que ela é hoje é fruto do que fizeram dela então, quem ela seria realmente?
Não são mais inúmeras perguntas como outrora, restou apenas uma mas, ela não está pronta pra lidar com essa nova realidade, não sabe se um dia estará. 
Sente que fatalmente se encerrou um ciclo de 30 anos em sua vida e, parece não haver nada além, seus olhos não vislumbram nada à frente. 
Aos poucos a dor vai dar lugar à um vazio, um sentimento de nada. Ela ainda se vê perdida, nem sempre em agonia ou desespero mas, ainda perdida.
Disseram que precisa de ajuda mas, quando procurou por ajuda ninguém demonstrou interesse, porque para os demais apesar de ser diferente ela é apenas mais uma.
Já aprendeu a identificar muito bem nas pessoas o desprezo que sentem ao conhece-la melhor, porque na verdade a atração desaparece quando percebem quem ela é realmente pois não lhe foi dado o direito de ser imperfeita, as pessoas se incomodam com a verdade. 
Por incrível que pareça é exatamente o que parece ser, não poderia ser mais sincera porque sinceridade é o que ela é; verdadeira e transparente, seus jogos são limpos, claros e objetivos. Não lida bem com grosseria, falta de respeito e principalmente julgamentos.
Até aqui viveu uma vida que a forçaram aceitar, não deram uma opção de fazer diferente mas, agora a verdade lhe proporciona a oportunidade de encarar um renascimento, de se libertar por completo e tentar descobrir quem é embaixo disso tudo e, quanto disso é seu verdadeiro eu.
Provavelmente, quando as coisas acalmarem um pouco dentro dela, uma nova jornada se iniciará, com mais cautela do que nunca pois estará procurando reconstruir a si mesmo dentre as ruínas. Ainda não sabe o que pensar ou o que sentir pois está tudo muito confuso ainda mas, uma certeza que ela tem é a resposta e sua verdade, que apesar de dolorosa é melhor do que qualquer suposição.
A verdade é libertadora, certamente não há nada mais preciso do que essa afirmação.