domingo, 4 de novembro de 2018

Espaços Vazios

Num dia qualquer você se dá conta que o tempo passou... tão rápido que você cresceu, tomou responsabilidades (ou não!), guardou muito de si, outras coisas deixou, adicionou coisas novas... E hoje, Quando se vê refletido no espelho, a criança em você sorri ou chora? As escolhas que fez, te deixaram mais perto ou mais distante da redenção do que quando começou essa caminhada?
Aceitar que alguns momentos não foram feitos para durar não ameniza a dor dessa realidade, aceitar que a missão de algumas das pessoas que mais aprendemos a amar é passar e não ficar, também não. É como conviver com um espinho na carne, talvez esse seja o meu.
Aprender a lidar com as lacunas que ficam quando alguém sai da nossa vida, tem parecido uma tarefa um tanto árdua. Começo a achar que todo propósito está ligado a um sacrifício. Somos conectados espiritualmente a outros seres em determinados momentos da vida para completar uns aos outros e acrescer, aí está o propósito... quando a missão está completa, a lição aprendida e a energia equilibrada para que ambos continuem sua viagem há a desconexão, aí está o sacrifício.
Pessoas vem, vão, mudam... significam... E o fato de continuarem significando pra você não as impede de seguirem seu caminho; nem deveria, mas nesse segundo de egoísmo esperamos que ao menos em algum momento também sejamos lembrados.
Talvez a coisa mais difícil com a qual tenhamos que lidar seja com aquelas situações em que não há despedida. O vazio que fica abre espaço para sentimentos tão fortes de perda que nos deixam vulneráveis. Alguém devia proibi-los de ir embora sem dizer Adeus! 
Por muitas vezes quando estamos feridos, como feras acuadas queremos machucar os outros para quem alguém partilhe a nossa dor, o nosso sofrimento. Nesse gesto instintivo de auto defesa, ao menor indício de perigo ou simplesmente para canalizar a própria angústia vociferamos o quanto somos bons e autossuficientes, bradamos a plenos pulmões as fragilidades do outro e, num jogo desleal e injusto, numa tentativa desesperada e ilógica de criar alguma empatia devastamos tudo que há pela frente. Falamos alto para tentar calar as vozes dentro de nós mesmos que insistem em dizer que algo está errado e, por esse motivo pessoas são magoadas por vezes causando danos irreparáveis.
Quando adquirimos de fato a capacidade de perdoar então poderemos ser perdoados; E mesmo quando não tínhamos consciência, ao tomar ciência se tivermos coragem de nos colocar em posição de humildade ante aquele a quem fizemos mal poderemos obter alguma paz.
Difícil compreender o que é o tormento de uma alma esgotada em busca de remição... quantas vidas serão necessárias para se alcançar a plenitude? Ao que parece ela só vem através de sabedoria, e a sabedoria com a experiência... muito dessa segunda, que produz a primeira, só vem através de sofrimento. Isso porque aprender e se deixar moldar pelo que de fato a vida tem pra nos ensinar só conseguimos a duras penas.
Compreender e aceitar não são parentes tão próximas quanto pensamos, mas podem trabalhar bem juntas quando nos resignamos a aceitar que existem muitos mais caminhos do que podemos supor e que, os espaços que julgamos vazios na verdade são campos arados para o próximo plantio.




sábado, 27 de outubro de 2018

A mudança que eu quero... Ser!

Hoje determinada situação me levou a refletir com curiosidade sobre o quanto as mudanças nas pessoas estão desacreditadas em nosso tempo. O verbo "mudar" se tornou banal e sem significado, fazendo com que absorvêssemos parte desse sentimento de insignificância embora a palavra seja muito utilizada. Deixamos de sentir a relevância, o peso real e, passamos a querer 'ver' sem querer 'ser'.
Afinal quem você é hoje se comparado à você do mesmo período do ano passado? A vida é um constante aprendizado e por isso deveríamos estar em contínuo movimento de evolução enquanto seres pensantes... Nossas experiências adquiridas, lições aprendidas, as decepções, os fracassos...tudo tem um papel fundamental no nosso desenvolvimento pessoal.
Não é preciso ir muito longe... a garota que acordou numa manhã qualquer há três anos atrás passou durante esse tempo por um turbulento processo interior que mudou por completo sua vida. E mudou muito, no sentido de metamorfose mesmo, transformar o que já existia, quem já existia... Se foi fácil? Nunca passei momentos tão difíceis na minha vida! Se escolheria não vivê-los? Eu teria o aprendizado sem eles? Então não! É como atravessar um longo deserto com pouca água e em seguida cruzar um dos polos com roupa suficiente apenas para sobreviver mas, depois chegar no destino e perceber que valeu a pena cada passo dado apesar da dificuldade.
E você, tem se vestido com esse "eu" há quanto tempo? Quanto tempo faz que você não aceita uma ideia nova, não se propõe a aprender uma nova lição, não reconhece um erro, não se dispõe de verdade a fazer algo novo? Faltam oportunidades para testar uma atitude diferente, para experimentar uma postura inédita? Me pergunto se as pessoas pessoas não cansam de usar suas ideias velhas e rasgadas as vezes... suas linhas de raciocínio tão puídas e frágeis... e aqui falo do todo!
Espíritas acreditam que são necessárias até mais de uma vida para se trilhar o completo caminho do auto conhecimento, Budistas dizem praticamente a mesma coisa com relação ao nirvana e, você aí usa a mesma roupa de "você" que usava há 10 anos atrás, há 5, há 3? Lamento tanto por você!
Nos desafio a despir cada dia mais do ceticismo que insiste fortemente em nos prender aos velhos hábitos e pensamentos e, acreditar mais na nossa capacidade de lidar com o novo, o diferente. E aqui quando falo em novo e diferente, estou falando no campo real das ideias, da metafísica, da discussão humana... falo de você... você novo e diferente!



domingo, 21 de outubro de 2018

Ao meu amigo distante

Escrevo-te estas rápidas palavras para que do teu dia não roube muito tempo, busco através desta apenas saber como você está. Num âmbito geral se trata disso, me certificar que você está bem, que vai ficar, que está/será feliz. 
Já não sei se faz alguma diferença dizer me angustio em pensar no quanto pode ter precisado de mim em todo esse tempo no qual não temos nos falado, se também desejou ter com quem conversar e eu não estive lá, falhei com você, sei disso.
Ainda sou nova nessa coisa de respeitar a individualidade do outro, não sei qual o momento certo de recuar/avançar; devo ter cometido milhões de erros e, apesar de nunca tentar esconder nenhuma de minhas inúmeras debilidades, em algum momento devo ter enfiado os pés pelas mãos pois minha insegurança aumenta na proporção da afeição que sinto causando desastres catastróficos, sempre foi assim. Essa é a parte que lamento a minha falta de competência em ser suficiente pra você.
Por diversas vezes eu quis invadir o seu espaço, não quis te dar espaço nenhum, eu precisava de você por perto mas, de alguma forma sabia que tinha te machucado mesmo que sem intenção e, por isso era minha obrigação respeitar esse seu tempo, te devia isso...
Contei as mais diversas estórias, inventei as mais variadas desculpas pra mim mesma e assim conseguir ter forças para me manter longe... pra te deixar seguir o seu caminho mas, no lugar da despedida você disse apenas um até breve...
Desde então tenho esperado mas, os dias continuam passando e você não volta, parece que nunca mais vai voltar... e eu sinto tanto a sua falta!
Você não vai voltar né? Nada nunca vai ser como era... eu sei... mas ainda estou no aguardo de um novo acordo, preciso saber... se chegou a hora de sofrer as dores do luto, de chorar as lágrimas do adeus; se agora for a hora de guardar com carinho tudo que foi bom e continuar tentando aceitar que as vezes a nossa cabeça dá uma dimensão diferente pras coisas do que elas realmente tem eu prometo ser forte e não borrar a maquiagem na frente de ninguém.
Se fecho os olhos ainda posso sentir a leveza de espírito que senti ao caminharmos no parque pela primeira vez, as risadas e até a seriedade serena enquanto por mais de uma vez conversamos sobre tudo e sobre nada, o abraço de alento e segurança, a palavra certa e o silêncio no momento necessário. Escrevo-te para que haja registro da relevância da nossa amizade mesmo quando aqui não mais estivermos. 





domingo, 26 de agosto de 2018

A miséria de não ser

Apesar de desconhecer a realidade das gerações anteriores, especulo que nunca se viveu em uma época onde se tem tanto e não se tem nada. Tão cheios de certezas e razões... tão vazios de valores e moral... ó como somos miseráveis!
Tão fartos de potencial e capacidade... tão desprovidos de sentido real e objetivo...
Gastamos todo o nosso tempo e energia correndo atrás de coisas que não nos acrescentam, coisas que vamos usar para sermos aceitos pela sociedade, coisas que usamos pra tentar suprir nossa necessidade de ser, de sentir... Coisas que deixamos de lado no minuto seguinte após conquistar.
Possivelmente a libertação real consiste em se desvencilhar da expectativa dos outros. E porque não reavaliar a sua própria?
Que desafio é esse...o de viver!
Temos seguido diariamente como bonecos de corda, sendo alimentados pelo ódio, pelas disputas, pela necessidade de provar algo... em buscas fúteis e sem significado real, resumido à uma procura incessante pelo "não se sabe o que". Nos cercamos das mais diversas frivolidades, numa fuga contínua para longe da culpa, da falta de aceitação, da solidão.
Aos poucos a vida vai esmaecendo, reduzida à contínuos e extenuantes jogos de poder, relacionamentos superficiais de interesse puro e simples, e rotinas sem significado.
Temos sido o melhor exemplo de ser humano que podemos ser? Talvez haja uma predisposição genética não sei, mas a convivência nessa sociedade mesquinha faz com que acabemos por nos envolver e nos contaminamos com as mesmas práticas que abominamos, por fim nos tornamos cada dia mais as referências que detestamos, sem nos dar conta disso. Numa corrida alucinada em busca de redenção - completamente perdidos - nos direcionamos em velocidade terminal rumo ao abismo.
Quem sabe compreender o sentido da vida seja concluir que ele não existe e, aceitar isso pode ser libertador. Finalmente admitir que todo esse sofrimento... toda esse rotina em busca do ter...do ser... nada disso tem mesmo cabimento.
Afinal, parece que estar ou não aqui, não faz diferença. Essa rotina alucinada vai continuar sem você e sem mim e, após duas gerações, ninguém se lembrará que passamos por aqui.
É difícil assumir que provavelmente as pessoas amadas ficarão melhor sem sua presença questionadora, sem seu flerte constante com a escuridão, sem sua alma inquieta, inconstante e desordenada, e que a paz interior que procura, só diz respeito à você.



sábado, 16 de junho de 2018

O preço do tempo

Mais uma vez ela observa a lenta transição do dia que se despede para a noite que se aproxima, como num balé as cores fracas se misturam no céu de inverno. Ali parada próximo a porta, naquele fim de tarde gelado, por um instante em meio a correria diária, como que acordada brevemente do seu transe pessoal se vê refletindo sobre a brevidade da vida. Percebe que é inevitável tentar conter o questionamento que sempre vem à tona com força sobre-humana nesses momentos... Qual o sentido da vida?
Naquele aniversário chuvoso sentou-se na no banco frio da praça e sob sua árvore favorita se perguntou porque sempre fazia tudo errado... porque não havia sido suficiente? Agora, observando o sol se pôr entre aquelas grades... torcia para que tudo fizesse sentido um dia.
Pensava no preço do tempo e no quando ele é implacável, sabia o quanto a responsabilidade exigia e se perguntava como manter um equilíbrio aceitável entre viver e sobreviver. Sem perceber, enquanto pensava o tempo já escorria por entre seus dedos.
Naquela decisiva tarde cinzenta entrou numa igreja, sem forças e aos prantos rezou para que, embora não fosse suficiente houvesse misericórdia. 
Quando nos tornamos adultos, algumas decisões a serem tomadas não parecem justas e,  parece mesmo que somos todos crianças assustadas afinal; todas interpretando um papel assumido sem instruções, uns escondendo melhor que outros seus medos porém, cada tentando seu melhor... 
Definitivamente é uma geração que não foi feita para envelhecer... fomos criados como desbravadores porém, mais tarde ensinados que a juventude era a resposta, que a sabedoria de nossos antepassados não valia nada e se negar à responsabilidade significaria que não precisaríamos tê-la. Fomos tão devastados por ensinamentos equivocados que nos permitimos ser invadidos por crenças e ideologias que nos levaram para longe da sensatez... para longe de qualquer lugar onde se pudesse encontrar algum tipo de equilíbrio. No desespero de ser, na expectativa preencher e dar sentido à essa existência vazia recorremos à satisfação temporária de toda sorte de futilidades. Viemos tão puros e cheios de potencial mas, de alguma forma fomos arruinados... eramos tão capazes que fomos sabotados antes mesmo de saber disso.
Após um longo suspiro de olhos fechados repete para si mesmo que enquanto quem tem esperança "espera" que algo aconteça, quem tem fé tem a certeza de algo acontecerá. Por isso continua tentando, porque tem objetivos que vão além de si mesmo, porque apesar de machucada e ferida ainda se arrasta e torce para que o fato de continuar a leve à algum lugar; um lugar onde finalmente seus machucados serão tratados e então saberá de fato se sua missão terminou ou se apenas começou.




segunda-feira, 28 de maio de 2018

Ensaio sobre a atualidade

As gerações posteriores à nossa estão a cada dia nos surpreender... Suas dúvidas, inquietações... seus medos... sua forma de tentar escondê-los... a maneira como agem com auto suficiência pra não admitir suas fraquezas...
Por vezes dá vontade de sorrir, um sorriso nervoso que procura disfarçar a descrença na humanidade... um dar de ombros que busca insistentemente não ter lidar com a triste realidade que nos está sendo imposta.
Posso apenas presumir que a nossa geração e a anterior falharam miseravelmente na criação dos seus filhos. Deixaram para a sociedade pessoas egoístas e não sabem o que é respeito mas reivindicam a sensibilidade para com eles,  exigem que tudo seja feito à sua maneira e nos seu tempo, não tem compromisso com a ordem ou com regras pois eles mesmos as criam, não dão ouvidos à nada e nem ninguém pois são "senhores do seu próprio destino"... no entanto, avessos à toda essa bagunça, ousam em falar em maturidade, responsabilidade e liberdade.
Horrivelmente vemos adolescentes oriundos dos mais diversos tipos de lares chegando totalmente despreparados pra enfrentar a "selva" da vida; vemos pessoas sem defesas, sem bases... sem visão de futuro... e lamentavelmente, com um futuro medíocre pré-definido. Se vê tanta vontade de fazer o que julgam ser certo e quanto mais tentam, mais se perdem a cada passo nas suas crenças e, as suas convicções intransigentes os leva a trilhar o tão temido caminho que trilharam os que vieram antes deles.
Se adaptar à vida adulta é difícil sempre, mas a maneira como lidamos com isso faz com que sejamos pessoas melhores...não para ninguém além de nós mesmos, porém acaba refletindo em nossas ações e em como interagimos com os demais. Amadurecer efetivamente, espelha para fora um caráter incontestável de alguém que constantemente aprende com seus erros e se esforça para fazer diferente, que traz uma personalidade inquieta em busca de frequente aprendizado, um espírito que não se conforma com a prostração e indiferença... 
Talvez tenha sido essa a sensação que nossos avós tiveram quando nos viram dando os primeiros passos na sociedade... De qualquer forma, parece que nada foi tão extremo quanto o que está acontecendo atualmente, estaríamos nós deixando como legado o produto de nossa fraqueza e desprezível existência? Ou estaríamos trabalhando arduamente para, como nossos antepassados deixar de fato seres humanos com valores éticos e morais capazes de se sobressair em meio a esse "mais do mesmo"? Estamos de fato sendo fortes, guerreiros e lutando e ensinando os nossos também por meio do exemplo? ou estamos mostrando o quanto ser fraco e incapaz na nossa sociedade tem sido recompensador?
É só um pensamento, me corrija se estiver errada, mas ao mesmo tempo que sabemos o que precisamos ser e fazer, mais aumenta a sensação de que não há espaço para comportar as pessoas que trabalham constantemente pela evolução, em busca de uma maturidade real. Talvez essa não seja a nossa época... nem o nosso lugar...
Quem sabe amadurecer seja isso, entender que a maturidade não demanda uma definição ao pé da letra... é estar em uma busca incessante pelo desconhecido, pelas novas experiências, é não se contentar com a limitação da finitude.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Feelings

Numa época de muito sentimentalismo e pouca sensibilidade quantas vezes nos esquecemos de se colocar no lugar do outro demonstrando empatia e cordialidade? Há uma frase muito comum que diz "todas as pessoas com quem você interage estão enfrentando batalhas das quais você nada sabe à respeito"... não basta ser gentil, há de ser humano.
Quantas vezes por não compreender as situações enfrentadas pelo próximo além de não ajudar ainda atrapalhamos? E pior, de propósito. Nem sempre estamos em condições psicológicas e emocionais suficientes para dar o suporte necessário mas, se não pudermos fazer isso  temos o dever de não interferir. Quando alguém está numa forte batalha não podemos nós ser o motivo de uma guerra perdida.
Aprender que o próximo tem uma realidade interior que pode diferir da sua e respeitar isso, é o princípio para uma convivência pacífica... plena! Não é sobre arrumar desculpas prontas, é sobre dar ao outro o benefício da dúvida... é sobre não fazer julgamentos... nunca!
Num dia qualquer... um sorriso, um abraço, um gesto que simbolize um "eu me importo" pode ser a razão para o outro continuar em frente; do mesmo modo a rudeza, a inveja, a fofoca e a ignorância podem minar a esperança de todos à volta e contaminar mais rápido que a capacidade de reparação, que costuma ser lenta e deve ser precisa.
Em determinado momento, podemos sentir exaustos de se doar pois o fluxo de retorno parece escasso; a memória das pessoas representa ser tão curta... esquecem fácil das coisas boas que experienciaram, das gentilezas que receberam, dos gestos de carinho e demonstrações de importância que receberam... sim, o esgotamento é inevitável; Mas aí entra em cena a sabedoria de um velho mestre que há tempos já orientava "não vos canseis de fazer o bem" (2Ts 3:13), se permitirmos que a nossa fé se abale pela ingratidão e pelas investidas maldosas, nos tornaremos apenas mais um doente qualquer jogado na sarjeta da vida... implorando por carinho, querendo atenção, esperando um amor que não pode ser dado por quem não o tem.
No fim todos nós temos feridas causadas pela caminhada, todos lidamos com situações que nos desafiam a cada dia à evolução e, quem pode dizer que mudanças profundas não são profundamente doloridas? Quem pode calçar os sapatos do outro sem as responsabilidades de ser?
Ninguém é melhor que ninguém e, se alguém se sente assim deve ser considerado o mais miserável dos seres. Superioridade é naturalmente concedida ao homem que, sábio tem ciência de sua insignificância e da brevidade de sua existência.




Nostalgia

Como falar em amor e não se ver preso em uma sessão infinda de nostalgia? Em um momento inesperado, sem nenhuma razão aparente... um som, uma brisa... as vezes um sorriso ou até mesmo uma lágrima trazem à tona momentos deveras significativos. Imediatamente as recordações das pessoas que fizeram diferença e marcaram sua vida invadem a mente fazendo com que o coração seja tomado por um profundo carinho e desconsolação. Ser obrigado a aceitar que tudo tem seu tempo.. aceitar que as pessoas também tem seu tempo como todo o resto. Infelizmente, saber que que devemos esperar menos das pessoas não diminui a frustração do sentimento não recíproco.
Nos apegamos à como o outro nos faz sentir, criamos um modelo ideal e perfeito de relacionamento humano e nos vemos frustrados quando nos deparamos brutal realidade... de que o outro pode não sentir igual, de que existem vias de mão única... de que o carinho pode não ter a mesma intensidade... de que pode não haver amor... nem reciprocidade. 
Vem à tona cada palavra de incentivo, cada desabafo cansado, o silêncio compartilhado, as risadas por motivo algum... momentos finitos que parecem ter sido feitos apenas para ser guardados na memória. Olhar ao redor e se ver sozinho já não é mais uma surpresa, é somente a constatação de um ciclo sem fim... ser deixado de lado quando por algum motivo não possui mais utilidade é o que fazemos com as coisas pelas quais não desenvolvemos afeição verdadeira, não é isso?
A tristeza insiste em querer roubar a cena da gratidão pela existência dos bons momentos, mas ela é refutada com a ajuda da razão. Não que isso sempre seja possível, não que fique mais fácil lidar com a decepção de que "as mais belas pessoas são aquelas que não conhecemos bem"... não que faça alguma diferença lidar com a dor de perder alguém que você amou ou descobrir que nunca foi realmente amado de volta mas, a pureza do que se sentiu não deve se perder jamais.
Numa fase de aparentes finais e recomeços, é normal o lamento por todos que a vida levou; devemos nos permitir sofrer a dor do luto por aqueles que infelizmente não estão mais partilhando conosco a caminhada. Mas, como em uma guerra perde-se vários amigos durante a batalha... vencer se torna uma questão de honra, para fazer valer a pena toda a dor e sacrifícios que a vida impôs. Devemos procurar entender que tudo tem seu porque e aceitar que esse mesmo caminho tem curvas, quem sabe numa dessas os caminhos não voltem a se cruzar em novo capítulo?



domingo, 14 de janeiro de 2018

O Tempo das Coisas

Cada vez fica mais claro que de fato tudo tem seu tempo e todas as as coisas estão interligadas. É assombroso como diversas situações podem ser "previstas" apenas analisando seu contexto... pensando bem ate mesmo as que são extremamente surpreendentes podem ser calculadas; cobrindo todas as possibilidades, a unica pergunta por responder seria apenas -Quando?
Se olharmos à volta e possivelmente até para nós mesmos podemos, em uma análise rápida, ponderar vários pontos sobre situações do nosso cotidiano... aquele relacionamento que há tempos dá indícios de seu fracasso, aquela pessoa que continua tomando decisões que a levam à lugares em que já disse não gostar de estar... mentiras, segredos, interesses... jogos que tem um desfecho bem definido se forem levados até o fim.
É difícil observar pessoas que amamos tomando caminhos e assumindo riscos desnecessários... mas isso faz parte de viver não é mesmo? Quantas vezes nós mesmos já tomamos decisões que outras pessoas consideraram insensatas? Tudo isso torna mais doloroso ainda ter que aceitar que todos são livres para fazer escolhas, o que tentamos ignorar ardentemente é que apesar disso ainda somos reféns das consequências... Quando não há mais nada a ser feito, essa é a hora de parar de tentar e deixar que o destino cumpra seu curso...
Abrir mão de um relacionamento também é amor, saber a hora de deixar a pessoa seguir seu caminho, esperar que encontre o seu melhor, desejar que seja feliz com suas escolhas... Talvez pior parte nisso tudo seja reconhecer que nem todos que amamos estarão conosco ao longo de toda a caminhada... como disse no início, tudo tem seu tempo...
Esse mesmo tempo molda as pessoas, muda as pessoas... O ser humano está em constante transformação, nossas mais variadas experiências, independente da intensidade, vão deixando traços que compõe a nossa personalidade e ditam nosso comportamento ao decorrer da vida; algumas coisas são facilmente alteradas porém as experiências mais profundas são as que de fato constroem nosso caráter. É necessária toda maturidade quanto possível para superar os fins e se abrir para novos começos, principalmente para pôr os fins necessários e criar os começos que queremos. Somos reféns somente das consequências de nossas escolhas, não de como as experiências nos moldaram.
Olhando apenas por esse prisma vamos estar presos em um loop de angustia e resignação, mas podemos escolher pensar como um passe de liberdade para ambos os lados. Liberdade que nos faz estar à vontade com nossas próprias escolhas e com as do próximo. 
Se algum dia a dor de aceitar que nós não somos 'os outros" vai diminuir? Não sei! Mas com o tempo aprendemos a respeitar esse espaço e deixar de olhar na direção que nos prende aos problemas das pessoas ao nosso redor.