terça-feira, 13 de abril de 2021

Waiting...

Talvez esperar seja o maior dos desafios para a humanidade. Dia após dia temos nos tornado por demasiado imediatistas, tudo já vem pronto e o que estraga é rapidamente substituído; esperar pelo resultado de nossos esforços ou mesmo parar por alguns segundos e pensar antes de tomar alguma atitude parece quase uma utopia. É, definitivamente esperar é trabalhoso, mais ainda do que agir. O menor tempo "parado" já nos parece estagnação, não aprendemos perder para ganhar, não fomos ensinados da maneira correta que na maioria das vezes menos é mais.
Constantemente somos movidos por nossos impulsos e explosões, agimos sem pensar e, quando achamos pensar acabamos por não agir.
Ficamos irritados se somos contrariados e mais ainda se não podemos ter o que queremos no exato momento em que o desejo aparece. Damos mais valor ao ter em vez de ser e, terminamos por não ter nada quando optamos em sermos vazios. Se o homem soubesse que o verdadeiro poder está em ser, buscaria ser apenas para ter. Triste e fútil geração nos tornamos! 
Ah se pudéssemos ter consciência de quantas oportunidades são perdidas ao longo de uma vida apenas em razão da ansiedade; talvez por isso algumas gramas pareçam tão verdes quem sabe o vizinho não dedique tempo para mantê-la assim?
O que não fazemos questão de entender é que certos plantios além de levar mais tempo que outras para a colheita, requerem mais atenção; mas é fato que nada que se planta nasce no mesmo dia. 
Adianta investir no plantio e não ter a paciência de aguardar e colheita? mais que isso, manter o ânimo e permanecer com resignação trabalhando o cultivo certo de seus resultados até que eles possam ser vistos de maneira palpável? Sim! Esse período de espera exige atitude, quanto maior o retorno, maior o preço a pagar.
Nada é feito sem trabalho nessa vida, até para se colher o fruto pelo qual tanto se batalhou demanda-se uma ação.
Vejamo-nos então como o agricultor que resiliente cuida da sua propriedade mesmo após o severo inverno, geada sem precedentes, chuvas incalculáveis ou outros percalços que o obriguem a se adaptar pelo caminho, segue perseverante em seu propósito. 
À medida que a expectativa aumenta a frustração, e os desafios de se manter em espera nos exigem de sobremaneira, em meio a conflitos internos é normal sentir vontade de desistir. Nesse momento lembremo-nos com pesar daqueles que abandonaram sua espera, tão perto de alcançar sua meta por falta de paciência e flexibilidade em se permitir evoluir. Saibamos que muitas coisas não nos chegam se não estivermos prontos para tal. Ao abandonarmos nosso cultivo ele seca e morre, o mesmo acontece quando perdemos o foco do propósito, há que se recomeçar do zero quando desistimos tão perto do fim. Portanto devemos seguir dedicando-se e esperando, confiando e acreditando no improvável mesmo que pareça loucura; ainda que se acredite sozinho. O que deveras importa é se ver progredindo, evoluindo, superando a si mesmo; perceber que a dor da espera o molda diariamente, o conduz por caminhos nunca antes trilhados, o ajuda a melhorar sua relação de confiança com o Eterno.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

The Last One

É chegado o dia em que nos despediremos e então nossa breve passagem por esta vida apenas fará certo sentido por algum tempo talvez àqueles mais próximos que deixarmos e pelas marcas mais profundas de aprendizado na alma que levarmos; porém, todo o resto (as pessoas que amamos ou odiamos, objetivos pelos quais lutamos, dores pelas quais sofremos, alegrias que vivemos, todo preciosismo, egocentrismo...) será irrelevante. As vezes nos esforçamos mais que o necessário para se dizer "vivendo" e colocando intensidade em coisas fugazes, nos desviamos do nosso real propósito de evolução espiritual. A todo momento somos chamados à distração pelo efêmero, e quantos de nós hoje não se assusta quando confrontados ante à brevidade da vida?
Por essas cousas diz-se que o tempo é curto demais, de fato ele é, e se torna cada vez mais insuficiente perante o mal uso que fazemos dele. Constantemente deixamos a objetividade de lado, no da faixa dos apegamos à um punhado de areia esvaindo-se por entre nossos dedos e impomos à ela nossos sentimentos mais intensos, escolhemos deliberadamente ignorar, tanto o fluxo natural das coisas quanto o tamanho da faixa de areia ao longo desta praia e até que outras praias mais existam. Em outros momentos, somos tão narcisistas que colocando nosso projetos e problemas numa lupa, subimos num pedestal e exigimos ocupar o centro do universo de alguém. Esquecendo que não somos imortais, seguimos dia após dia arrogantes desprezando que num segundo todo esse sistema parasitário vai ruir um dia. Não queremos ouvir que a verdade é que ninguém se importa realmente, estão todos ocupados seguindo seu próprio caminho, fazendo sua própria busca, e nós devíamos fazer o mesmo.
Tão ocupados em chamar a atenção do outro sobre si mesmo, deixamos de nos fazer melhores sem saber que isso é que nos faria progredir enquanto humanidade.
Freud já dizia, se queres viver, prepare-te para morrer!... Ele tinha razão! Viver bem é encontrar o equilíbrio entre se organizar para partir a qualquer momento e o planejamento da possibilidade de viver 100 anos, amar é de fato capacitar quem fica para seguir sem você, ser feliz é apreciar cada momento como se fosse o último; e dia após dia nesse caminho de evolução, saber que fomos unidos para nos desenvolver juntos, então cada pessoa que está conosco ou encontramos nessa jornada tem um propósito. Gostamos de pensar em união por laços de sangue e sentimentos, prefiro acreditar em almas evoluindo juntas em um plano maior de sabedoria, e deixando de lado as limitações que a "humanidade" nos impõe, que somos todos seres cuja única finalidade parece ser alcançar a semelhança.
Talvez o mais trágico em tudo isso sejam aqueles de nós que julgam estar vivendo, porém se desesperam em suas rotinas mal arranjadas, suas preocupações sem sentido, suas ansiedades irracionais e tantas outras incoerências que os fazem se apressar para o fim, sem estarem preparados para ele e sem terem de fato aproveitado o presente. 
Deixar o olhar perder-se através da janela enquanto em paz aprecia um café não tem preço, mas exige um alto valor quando ousamos deixar de lado uma vida focada apenas em rodar sob o próprio eixo; não é fácil sair do lugar, forçar o pensamento a andar pra frente e abrir a mente para que a alma possa de libertar. É uma tarefa árdua até encontrarmos a paz contida na certeza da finitude humana, mas quando aceitamos e entendemos que este corpo está à serviço da alma e não o contrário é realmente libertador.