terça-feira, 23 de junho de 2020

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Caminho muito lentamente, estou sem guarda-chuvas e cai uma garoa forte que molha meus cabelos e me dificulta o passo, os carros agora passam por mim e não se preocupam em desviar das poças d'água, sou quase invisível; Não importa mais... agora já anoiteceu... na pressa de chegar em casa tropecei, cai, me machuquei... peguei um atalho e acabei sofrendo um assalto...
Não chamei ajuda, algumas pessoas até se ofereceram, mas achei que podia resolver tudo do meu jeito. Eu não conseguia entendê-las, cada uma falava uma coisa ou indicava um caminho diferente e todas diziam que seria o certo a fazer ou que me faria chegar a salvo em casa... mas eles divergiam tanto! Uns diziam que a culpa era minha por ter pego aquele atalho, que eu não deveria ter pressa, que poderia ter saído mais cedo, outras diziam que aquele lugar era de fato perigoso e eu não deveria estar ali, algumas defendiam quem havia me assaltado, e minha cabeça rodava.
Não podia confiar em ninguém! Não iria!
Saí decidido a seguir sozinho, confesso estava muito perdido e, constantemente sentia meus pés doerem, cansado sentia vontade de parar; olhava para minhas roupas rasgadas, para os machucados e sombras invadiam a minha mente... me torturavam, eu lembravam do que aquelas pessoas haviam dito e me sentia só... culpa... de quem era a culpa?
Devo ter sido atingido durante o assalto, pois como quem sofre de perda de memória recente, comecei a vagar apenas guiado por lembranças antigas de como era e onde estava o meu lar... Não sabia exatamente onde estava mas, podia sentir o lampejo da paz que era estar em casa. Mesmo sem lembrar com certeza o caminho tinha que continuar tentando! Não posso imaginar como fui parar tão longe!
Depois de caminhar por km e horas à fio sem sucesso, exausto, sentei-me no meio-fio... Eu estava molhado, tremia de frio, não aguentava mais aquilo, eu só queria finalmente chegar em casa e tomar um banho quente e colocar roupas limpas... mas eu estava ali vestido de trapos que refletiam muito bem o que eu sentia por dentro. Então chorei, precisava de ajuda, mais que isso, eu queria ajuda mas já era tão tarde da noite.
De repente, mesmo em meio aquela situação lastimável tomei uma decisão, eu tinha que continuar caminhando; ainda que apesar da minha aparência eu tivesse problemas durante o trajeto, embora minhas forças pudessem parecer esgotar, e mesmo que não tendo nada eu corresse o risco de ser assaltado novamente; Eu escolhi acreditar, acreditar que estou perto de casa e confiar que a fé em meu coração me levará até lá.
Não consigo saber as horas, mas está amanhecendo... apesar de ter chovido insistentemente a noite toda, parece que teremos um lindo dia de sol, que bom! É mais fácil caminhar quando está tudo iluminado!