sábado, 22 de junho de 2019

O Castelo de ponta-cabeça

Ela não se percebe mas, as vezes nota que sua ternura vai se esvaindo ao poucos... já não tem interesse em relações que se mostram potencialmente decepcionantes, sente repulsa em vínculos pautados em interesses sustentados em aparências e falsidade e, seu estômago embrulha ante ao mísero sinal injustiça; Quanto mais o tempo passa e fica evidente a falta de sinceridade e hipocrisia intrínseca em todas as esferas de convívio, vai perdendo a fé na humanidade. 
Está tão cansada de sentimentos supérfluos, que não consegue se permitir profundamente sem antes pôr à prova os sentimentos no outro. A verdade? As pessoas tem sido tão comuns em suas lamentações sem nenhuma iniciativa; no começo é doloroso, depois é entediante e, no fim você se torna cada vez mais indiferente; Por isso, dificilmente alguém conseguirá uma conexão mais duradoura se ela não consentir, numa forma de auto defesa ergueu muros por onde muitas pessoas espreitam, mas sem nunca saber de fato o que existe por trás deles. Chega uma hora em que interagir com outros seres humanos é quase um sacrifício e exige um esforço extremo. Tem horas que desmorona por dentro e enquanto sorri alegremente sua alma se contorce... de ansiedade, na incerteza, de medo...
Sua fortaleza está cercada por fossos profundos onde depositou as próprias lágrimas mas, só ela sabe disso; nas fundações estão fé, caixas de papelão rasgadas, miojo e a sonata moonlight de Beethoven; no hall de entrada ouve-se Songbird de Kenny G sendo executado em algum fundo escuro dos porões mantendo o monstro sob controle enquanto alguém bravamente se aventura na aproximação.
Geralmente não paramos para pensar mas, ao longo da vida, nossa própria mente também vai se tornando um enorme castelo assombrado, com muitos quartos abertos, limpos e iluminados, mas também com muitos outros escuros e cheios de entulhos, de onde saem bichos que eventualmente são encontrados nos quartos limpos.
A cada questionamento sem resposta... um desapontamento, uma tentativa de permanecer impassível, um suspiro desesperado em busca de fôlego para tentar fazer diferente... diferença. A cada esforço para fazer o melhor, a decepção da falta de reconhecimento... E a frustração por sentir que não é suficiente. Juntar tralha nos lados não visitados da mansão acaba nos matando um dia.
Ela demonstra força, resiliência... de fato é verdade... mas a que preço? Não basta matar os bichos que aparecem nos espaços limpos, há que se faxinar os espaços fechados, os quartos escuros. Há que se encarar seus demônios de frente.
Que não se perca a inocência, que não perca a sensibilidade em lidar com o próximo, a capacidade de reconhecer o erro, de pedir perdão... de aceitar uma opinião diferente, de refletir sobre... 
Não podemos ser constantemente irredutíveis em nossas idéias, intransigentes com o sentimento do outro, apressados em medir o próximo com a nossa régua pois é com a mesma que seremos medidos. Gostaríamos de conviver com nós mesmos se não fossemos quem somos? Ou manteríamos distância? Suas atitudes se observadas de longe seriam dignas de admiração ou repugnância? 
Talvez não estejamos sabendo lidar com as pressões da atualidade; talvez não estejamos preparados para tantas crianças que chegaram à vida adulta sem amadurecer e, nos falte a simplicidade do passado, a sabedoria dos antigos, a empatia da verdade e a justiça como prumo de nossas ações... Para conviver em sociedade, para viver... 



segunda-feira, 3 de junho de 2019

Não quero ser salvo

Como foi seu dia hoje? Como eles têm sido ultimamente? Ao observar as pessoas em suas rotinas me pergunto se estão de fato satisfeitas com rumo que tomaram em suas vidas. Onde têm depositado sua esperança? Pelo que têm se dedicado dia após dia? Quais são seus anseios e objetivos para o futuro que ainda lhes resta? Impossível calcular quanto tempo deste que já se passou, desperdiçamos investindo principalmente em relações que estavam destinadas ao fracasso, ou alimentando projeções que só haviam em nossas mentes à respeito de coisas e pessoas que nunca existiram; Que estavam lá mas, que no fim não eram o que esperávamos.
Porque somos mesmo assim assim, depositamos nossa fé em frivolidades e escolhemos ignorar a brevidade da nossa existência, vivendo como se o fôssemos fazer para sempre.
Grande parte de tudo que vemos e conceitos que formamos são feitos com base em definições superficiais que não são capazes de revelar a profundidade das coisas. E não é necessário! Pode ser desconfortável sim, mas onde houver respeito podemos, mesmo sem ter a profundidade, sermos capazes de ser justos assim como gostaríamos que nos fosse feito, e isso é suficiente.
Se até aqui, de tudo que já vivemos tiramos lições que nos fizeram crescer e, seguir em frente mais maduros somos parte de um pequena e afortunada parcela da população, e devemos fazer um minuto de silêncio e reflexão pelos que ainda estão pelo caminho.
Não adianta tentar enganar a si mesmo, alimentar monstros fora do armário - embaixo da cama, que seja - ainda é estar preso!
Passamos os dias a scannear comportamentos, buscando padrões e, por vezes num complexo de salvador tentamos numa insistência incômoda salvar os "miseráveis" de um suposto sofrimento. Já parou para pensar que talvez o outro não queira ser salvo? E que a sua realidade possa diferir da do próximo? E mais, que as vezes a melhor maneira de ajudar alguém seja não ajudar, a não ser que venha um pedido de ajuda? E, ainda assim ele deve vir acompanhado de ações reais de mudança. Ações invasivas podem ser extremamente nocivas, por isso limites são tão essenciais para nos auxiliar na manutenção da sanidade. Deve haver um limite no poder que concedemos às pessoas sobre a nossa vida, porém se não houver auto-conhecimento não saberemos nunca quando essa barreira for ultrapassada. Tanto para quem quer salvar quanto para quem quer ou não ser salvo.
Até que ponto devemos permitir que alguém/algo entre em nossa cabeça e tire a nossa paz, ou seremos coniventes quando tentam a todo custo deletar nossa essência, destruir quem somos porque não se encaixa... não agrada... não convém... Embora as pessoas/coisas só tenham o poder que damos à elas, o maior inimigo diário não está lá fora, somos nós mesmos e o maior desafio está em nos manter firmes e equilibrados em nossas insanidades; e, assim erguer as barreiras necessárias para que o "poder" não seja entregue em mãos erradas.
Nosso corpo precisa de alguns acordos simples, de rotina... e sofrer quando o momento se apresenta, deve fazer parte dela. Que problema tem em tirar um tempo para sofrer? Limites lembra? Já dizia o salmista "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã."(Sl 30:5b) e, quanta beleza e sabedoria há nessa passagem! O sofrimento faz parte do desenvolvimento mas, temos que estar atentos para que não se torne um auto flagelo irracional.
Tudo tem seu tempo e alcançar o patamar onde conseguimos olhar para trás, ver que todo o sofrimento e dificuldades valeram a pena e ser gratos por isso, demonstra um grau de evolução pessoal muito importante. Quem somos hoje é fruto desse sofrimento, desse crescimento, do aprendizado e, mudar quem nos tornamos a partir da nossa história de vida é dar as costas à tudo isso, é desprezar todo o processo que levou a borboleta a ganhar asas...
O fim virá, breve ou não, tudo vai passar e, tão logo não estejamos mais aqui não seremos mais lembrados nem pelos mais caros, quanto mais por aqueles a quem não representamos nada... Hoje já somos números. Então, até quando vamos nos machucar tentando mudar quem somos com a desculpa da "adaptação"? Numa escala de valores, vale a pena? É realmente importante a ponto de recomeçar uma vida em favor de uma causa que não lhe é cara? Ou de pessoas que não tem significado real?




segunda-feira, 27 de maio de 2019

Viver não espera!

Queremos que o tempo passe rápido... que chegue logo 18h, que chegue logo sexta-feira, nosso aniversário, o fim do ano, uma data especial... anseios comuns à todo ser humano mas, pra quê? Por quê? 
Corremos pra lá e pra cá numa rotina alucinada desejando abreviar os nossos dias, com o discurso de quem quer prolongá-los. E, com o desespero de quem busca, não encontramos nunca; pois não sabemos do que nosso vazio é feito.
Olhamos as pessoas indo e vindo num ritmo acelerado, absortas em si mesmas... em seus pensamentos, em sua rotina frenética... cotidiano esse que amargamente partilhamos. Raramente paramos para pensar que por trás de cada rosto há uma história e, é isso que nos faz tão diferentes uns dos outros mesmo sendo tão parecidos. Muitas dessas pessoas demonstram sintomas de estarem acometidas do que parece ser o mal do nosso século, essa ansiedade desenfreada, totalmente insana e fora de controle.
Queremos crescer, casar e ter filhos ou não, queremos viajar pelo mundo... ter um bom trabalho, dinheiro para as nossas contas, pros nossos sonhos...
E de repente já é 8 da manhã de novo, já é segunda-feira, as férias acabaram, o feridão se foi, o ano acabou... e nesse ciclo sem sentido só encontramos o fim quando ele encontra a gente.
Nessa aflição diária por nos encontrar acabamos por nos perder ainda mais... E daí se for só isso, e daí se não tiver vida após a morte? Pior ainda! Você não viveu direito nem uma coisa e nem vai viver a outra! Que miseráveis nós somos... Estamos sempre escolhendo viver presos num passado que não temos poder para alterar... ou num futuro que destruímos ao tentar moldar, quando não vivemos plenamente o presente!
Será que a nossa geração vai conseguir encontrar algum tipo de cura a tempo? ou vai continuar contaminando a geração anterior (eram felizes e não sabiam) e arruinando a posterior (com suas falácias superficiais, suas "experiências" de vida miseráveis e suas existências nefastas). Nunca tivemos tanto para ser e, quanto mais temos menos somos.
Quando você vê a vida passou... e você é aquele senhor de andador observando por entre as grades da casa de repouso o movimento na rua enquanto toma um sol, ou aquela senhora jogada de casa em casa que recebe uma mísera aposentaria que os filhos usam em benefício próprio... Talvez você tenha construído uma família que vai cuidar quando estiver senil e serão amorosos... Não sei, mas se você for esperto mesmo, ao invés de viver na ansiedade do futuro vai fazer o seu melhor agora (o que dá, com o que tem!)!
Não dá pra deixar de sair com os filhos passear porque não tem carro, não dá para abrir mão de um passeio na praia porque não se tem dinheiro para um estadia prolongada, não dá para esperar!... ter dinheiro, ter tempo, ter paz, por alguém... a vida é agora! é já!
Porque um dia vai acordar com rugas, velho e amassado, seus filhos já estarão adultos (se os teve), seus pais já terão ido embora... você estará sozinho, tudo o que restarão são as lembranças e você estará vivendo o futuro que construiu agora. Será que gosta dessa visão?
A hora é essa, viver não espera! 

sábado, 20 de abril de 2019

Mais um dia...

É tão perfeito! Ele olha por entre a cortina para a árvore cujas folhas em seus galhos abundantes balançam saudáveis ao embalo do vento... e admira a perfeição da criação. Lembra de quão fascinantes são as paisagens que o deixam atordoado, seja na cidade ou fora dela... a sintonia natural das coisas são simplesmente inacreditáveis! O ser humano, ao contrário do que muitos gostam de dizer, compõe de forma magistral essa sinfonia... com esse jeito desafinado, com essa cadência descompassada, com esse jeito gracioso de enfiar os pés pelas mãos o tempo todo, como uma criança aprendendo a dar os primeiros passos... sim! o ser humano compõe maravilhosamente essa peça!
É uma droga viver - ele pensa - mas, que maravilha é poder estar vivo! - ele sorri.
Uma experiência de dor de sofrimento, que nos tira o chão... nos faz questionar o tempo todo quem somos, pra onde vamos e pra que servimos afinal? E é completamente equilibrada quando nos deparamos com um sorriso de gratidão, o abraço de uma criança, uma gentileza inesperada, um ato de amor... Permanecemos sem resposta mas, conseguimos força para continuar caminhando até a próxima crise existencial.
A cortina balança mais um pouco e, com o movimento ele se distrai... suspira cansado... não sabe o que sentir e nem o que fazer... mais uma vez se sente perdido.
É uma droga viver - ele pensa novamente - mas, que interessante é poder estar vivo! - ele conclui tristemente.
Seres imortais que perderam a imortalidade e foram obrigados a lidar com isso e, mesmo após milhares de anos ainda não conseguiram se adaptar à nova condição... física ou domiciliar. Vivem como forasteiros entre os demais, percebem-se deslocados, perdidos, sozinhos... Sentem e pensam diferente, estão mas não são, vivem mas não gostariam e nesse meio tempo tentam apreciar e aproveitar a passagem como podem.
Será que faz algum sentido? - ele se pergunta - Nada tem feito nenhum sentido já há algum tempo mas, desde o momento em que finalmente conseguiu parar de lutar contra si mesmo, a resposta não tem interessado tanto. Apenas tem tentando aprender a lição à que foi submetido aprender... Afinal, se existe alguma vantagem em sofrer no paraíso temos que usar isso à nosso favor.
Olha mais uma vez para fora e observa o dia lentamente se despedir, os raios de sol aos poucos vão ficando em tons laranja... que cenário divino se desenha!... Ao som de uma batida envolvente ao fundo, seu cérebro embalado pelas doces notas tenta se convencer que, basta um dia de cada vez, que quem viver verá, que talvez um dia seu esforço para permanecer seja recompensado de alguma forma... quem sabe ele consiga chegar onde poucos chegam e descobrir...

domingo, 14 de abril de 2019

Devaneios II

Hoje eu não quero saber... faltam poucos minutos para o dia acabar mas, por alguns momentos não quero me preocupar... vou me iludir e deixar a mente o mais vazia possível, dizer pra mim mesmo que não me importo... com o aquecimento global, as doenças da sociedade, com o que as pessoas pensam e como se sentem, com meus próprios anseios desesperados...
Saio de roupão na sacada e fumo um cigarro lentamente; respiro fundo ao olhar para as estrelas de um céu frio de outono e sou rapidamente envolvido por uma leveza melancólica.. é quase como constatar resignado que se está onde e como se deve estar. Embora as vezes me veja engolido pela rotina diária, sei de forma consciente de que nada disso faz ou tem algum sentido real pois, repentinamente tudo pode acabar e então...nada!
O que queremos quando levantamos todos os dias, seguir um roteiro pre-definido? Passar a vida tentando definir um roteiro ou procurar viver na prática enquanto o resto de nós estão distraídos com a passagem?
A vida no fim das contas é uma comédia pastelão onde decoramos as falas, protagonizamos cenas dignas de pena, fazemos as pessoas rirem com nossas atuações de riso fácil e gosto discutível e, terminamos nossos dias sozinhos porque ninguém se importa quando um palhaço chora.
Passamos anos correndo atrás de coisas que não queremos de verdade, dando importância pra o que pessoas que nem consideramos vão pensar de nós... Dispendemos um tempo precioso trabalhando em detalhes tão insignificantes mas que projetamos tão relevantes que são capazes de nos destruir, quando na verdade devíamos estar preocupados com a nossa própria sanidade... nos questionando o que de fato queremos pra nós mesmos, se estamos ou não felizes com o que temos/somos... se estamos fazendo o melhor com o que fizeram de nós. Alias, quando foi a última vez que você fez isso?
Me pergunto se algum dia será realmente possível atingir um nível de desprendimento onde tudo isso não terá nada além da importância que tem que ter... o processo é lento e doloroso, o nirvana é real?
Hoje não quero saber... porque faltam poucos minutos para o dia acabar, a semana está recomeçando e a guerra continua.



sábado, 6 de abril de 2019

E então... Nada!

Hoje é o último dia... Em algumas horas se acabarão todas as chances de um contato, de um contrato... de uma declaração de amor, de um pedido de perdão. Não importa quais são seus sentimentos à respeito, você ainda irá ficar por aqui! E terá que conviver todos os dias com as palavras não ditas, com o sentimento sufocado... com a angústia presa na garganta. O que você faria se soubesse o exato momento em que o tempo acaba?
Talvez não hoje e nem tão breve, mas algum dia...

John, eu nunca disse o quanto te admirava, talvez porque nem eu soubesse o quanto você merecia a minha admiração. Nunca disse o quanto te amava com a intensidade devida, porque eu mesmo não tinha ideia da dimensão do amor que sinto. Mas agora que sei é tarde...

Mary, nunca te falei que te entendia... mas agora eu entendo... e de uma forma que talvez nem você saiba como, numa compreensão muda eu amo! Amo o que fez por mim! Amo o que, apesar de todas as lutas interiores, de toda a dor, tristeza, rejeição...de toda a dor da obrigação de amadurecer sem ninguém, fez por mim! Queria tanto poder dizer o que você significou...

Conceição, amo o fato o de ter pensado em mim acima de tudo quando ninguém mais o poderia ter feito! E, por tudo... simplesmente te amo! Te amo e te entendo! Te entendo e te agradeço!
E na minha gratidão, me pergunto o que mais posso fazer para tornar a vida de alguém que me é tão importante mais feliz...embora saiba que a felicidade é construída a partir de si mesmo... Ah como queria que estivesse aqui!

Mike, algumas vezes me questiono se você não sabia o que se passava comigo e, apesar de todas as lembranças escusas e obscuras em que me vi perdido e sozinho.. fico feliz em dizer que o monstro já não está mais lá... porque eu cresci, e da minha maneira superei e, ele não me afeta mais como antes. Mas apesar de tudo eu venci e queria que pudesse ver como me saí bem...

Somos o melhor que poderíamos com o que fizeram de nós... somos produtos dessa sociedade doente e infeliz.
Somos perfeitos em nossa incompletude, somos impecavelmente imperfeitos... perfeitamente bem sucedidos em nossos fracassos... Somos sobreviventes, resistência de uma causa perdida... Somos guerreiros fadados à derrota, a verdadeira minoria.
Nossos soldados caem dia após dia vitimas de si mesmos, do que permitem que a genuína escória faz conosco... Um exercito de fantasmas que luta "sozinho" numa guerra contra monstros sanguinários e, que se perde ao se preocupar com detalhes sórdidos plantados pelo inimigo. 
Como mártires sem honra de uma sociedade que não cuida de maneira adequada de suas crianças e se preocupa demais com a trivialidade... Brigamos por insignificâncias e esquecemos o que de fato é relevante em nossas vidas...  
Viver é importante ou apenas existir? Qualquer inútil se faz presente na existência mas, fazer algo que de fato reescreva a história é feito para poucos. Em qual classe você se enquadra?

Olha Annie, por anos fugi achando que seria algoz de mim mesmo ou que o abstrato responsável o seria... nunca te culpei... deveria?... Depois de tantos anos gosto de pensar que, como eu você foi vítima de algo que está além de nosso poder de resolução. Culpar à Deus... talvez Karma... Uma dia saberemos... ou não...tem coisas que é melhor simplesmente deixar pra lá.
Mastigar os acontecimentos rapidamente e engolir o quanto antes é a melhor saída possível, eventualmente algo fica incomodando na garganta mas, nada que o gosto amargo do sofrimento não faça liberar aos poucos.

Jadi, espero sinceramente que a sua vida tenha sido boa como pareceu... mas o fim indica um péssimo começo e, creia...lamento tanto! Ao imaginar sua dor e solidão ao tentar desesperadamente fugir de si mesmo, me vejo... choramos juntos...

Você é sensível à impureza tomando todos os centímetros da alma e fazendo sentir a indignidade a cada inspirar/expirar? a revolta tomando conta de cada célula fazendo com que tenhamos vontade de fazer cada pecador sentir a fúria de nossas injustiças... mas não, aguardamos... esperamos a justiça de Deus, que dizem ser infalível e perfeita. Aguardamos por ela e seguimos a vida, vestindo os trapos que nos deram pra trajar... a cada passo sentimos o peso da nossa imoralidade, sentimos de alguma forma a nossa inocente indecência e imploramos pelo perdão ante um pecado nunca cometido.
A dor não diminui com o passar dos anos, mas não falar sobre isso tornar mais fácil viver... Acontece com tanta gente, superar é o que dizem... seguimos fazendo o melhor com o que fizeram de nós.



sábado, 30 de março de 2019

Ensaio rápido sobre egoísmo

Vou começar dizendo que o egoísmo deveria mover o mundo, mas calma você logo vai entender (eu espero).
O que vemos por aí aos montes hoje em dia se trata de outra coisa: mesquinharia. Pessoas se aproveitando das outras, trapaceando para obter benefícios a qualquer custo, usurpando ideias e oportunidades que não lhes cabe pois acreditam que tudo é seu por direito, sem mérito algum. Vivem como se pelo simples fato de estarem respirando o mundo lhes pertence, agem com um pedantismo extremo como se o restante da humanidade estivesse em uma dívida eterna para com eles.
Sabe quando você de fato pensa no outro? Quando pensa em você!
Quando pensa que tudo que você faz para o outro vai voltar pra você em dobro, quando internaliza que no futuro pode precisar deste que hoje não te representa nenhum tipo de "ganho", quando concebe a ideia de que a vantagem não vem agora mas talvez pode vir em forma de reconhecimento.
Fazer as pessoas felizes, surpreender alguém, ser gentil, dar valor... se não puder fazer pensando no outro... faça por você! seja egoísta! seja bom por egoísmo, eu te desafio! seja tão egoísta à ponto da sua bondade e gentileza afetar tão positivamente a vida das pessoas que o maior beneficiado será ninguém menos que - pasmem! - você mesmo!
Quanto mais mesquinhos formos, mais infelizes e frustrados seremos; a medida que tentamos salvar a nós mesmos nos perdemos mas, e se salvar o outro for a nossa salvação?
Se soubéssemos o poder positivo de retorno que nossas atitudes para com o próximo tem na nossa vida, não nos cansaríamos de fazer o bem.
Talvez se começarmos a pensar em como fazer o bem real para o outro nos faz bem, possamos ser mais egoístas e menos mesquinhos. Dessa forma uma sociedade egoísta faria de fato um mundo melhor.




sábado, 23 de março de 2019

Pra ler em voz alta

Quanto mais subo, desço... Quanto mais me acho, me perco... Ao mesmo tempo que ganho, perco... Quanto mais me esforço, menos alcanço o que me proponho... quanto mais sei, menos compreendo... 
Aos poucos vou perdendo o valor que me dou... sempre há uma palavra, uma atitude, alguém para desmerecer uma conquista, uma descoberta, um feito... E a cada dia fica mais latente o fato de que nunca se é suficiente... então como ser suficiente para si mesmo ao passo que não se é para aqueles que você considera de alguma forma importante na sua vida?
E nesse processo quanto mais me diminuo menos me encaixo, porque nunca se é o bastante... parece que quanto mais me aproximo de mim, mais distante estou... sempre correndo atrás do inatingível...
E então, cada um em seu caminho tentando salvar o outro do tormento eterno e lhe proporcionar a salvação, traz a sua visão de mundo de acordo com as suas experiências. No esforço desesperado de alcançar o próximo, acabamos por machucar, ferir, abordando de maneira inadequada e até falando o que não deveria. Na melhor das intenções, as vezes ao invés de ganhar acabamos por perder completamente.
Me disseram que para cada resposta um mundo de novas perguntas se desenhavam então, porque fazer perguntas complexas quando a vida é suficientemente complicada? Talvez a melhor resposta seja não fazer pergunta alguma.
Não é sobre justificar as atitudes do outro mas, escolher como elas irão afetar a nossa passagem. E nessa luta entre entender e sentir, me perco... e sem perceber, as vezes me rendo chantagem de não ser, de buscar moldar-me à forma do que procuram sobre mim... Nesse turbilhão de sentimentos esqueço que cada um tem sua própria expectativa e, que nem que vivesse mil vidas poderia alcançar todas elas.
O que pensam à meu respeito não deveria me definir eu sei, mas quando se vive toda um existência em torno de expectativa é inevitável não se sentir afetado por... 
Breve virá o dia, e posso sentir, em que a maturidade finalmente despertará o nosso lado mais responsável e consciente onde a percepção das pressões terá o peso exato que tiver que ter, a opinião das pessoas terá o justo valor que nos couber e, nós daremos a nossa contribuição à sociedade nada mais do que pudermos oferecer, independente do que "eles" quiserem aceitar.
A verdade é clara, nada que proporcionamos será suficiente para aqueles que decidiram viver se aproveitando dos que acreditam não ter nada a disponibilizar. Nos escravizam, por que deixamos... Usam a nossa intelectualidade, pois permitimos... Usurpam nossa capacidade porque nos fazem acreditar não sermos capazes de produzir... de ser!...
Até quando permitiremos que nos façam sentir como se o mundo não fosse nosso por direito? Até quando os nossos cometerão suicídio por achar que não se enquadram? Até quando sentiremos forasteiros e seremos banidos de uma terra que nos pertence por direito? Somos tantos, mas estamos tão dispersos a ponto de não perceber a nossa força.
Infelizmente muitas covas ainda verão precocemente homens/mulheres fortes, formadores de opinião, personalidades capazes de mover a massa, almas com talento para mover o mundo e incapazes de suportar a própria dor excruciante para posteriormente tocar multidões... 
Tudo está em como se lida com a agonia e as frustrações e, então ensina os mais frágeis com lidar com a situação... você pode fazer isso?
Você pode sobreviver e continuar para contar à quem vem logo atrás como fazê-lo?



















sábado, 2 de março de 2019

Serena incompletude

Já se perguntou algum dia "quem sou eu"? Parece uma pergunta fácil mas, é cheia de profundidade e significado se pensada da maneira correta. Afinal, pense em todos que de alguma forma o ajudaram a compor a personalidade que tem hoje.. Sua família (estruturada ou não), os colegas da escola, aquele professor difícil, o namoradinho da adolescência, o bullying que sofreu, um ente querido que se foi cedo demais, um trauma que só você sabe...
O que contribuiu para definir quem você se tornou? as dificuldades que passou quando criança ou as batalhas que enfrentou quando já adulto? E o principal... você se sente satisfeito com isso?
As vezes temos tanto medo de tomar as decisões necessárias que transformamos nossas vidas em um inferno de - se's - que nos assombram até o fim de nossas vidas quando uma simples dor momentânea pode mudar qualquer curso que pareça inevitável. A dor é necessária para o crescimento; não podemos optar pelo "não-sofrimento" quando crianças, talvez seja por isso que aprendamos tanto e tão rápido; mas na vida adulta passamos a fugir dos problemas que nos fariam continuar evoluindo. O que te faz sentir mais impotente, quando outras pessoas lutam suas guerras ou quando você se retira porque tem medo da derrota?

Talvez no fim, todas as batalhas que travou, todas as experiências que acumulou não servirão de nada além de ter proporcionado uma passagem tranquila e mais confortável por esta vida... 
- Será que vale a pena? parece pouco... - alguém diria, mas ao olhar para as pessoas que permanecem "presas" nas primeiras fases e "jogam" uma vida sem desfrutar os desafios e as recompensas do níveis mais elevados, percebemos o quão melancólica é uma vida batendo sempre na mesma tecla; uma vida vendo as mesmas cores e cenários, cometendo os mesmos erros e sem nunca achar a saída.
Além disso, que graça teria passar uma existência sem experiência, sem aprender ao máximo o que podemos... sem usufruir das benécias da evolução pessoal? O desafio está no aperfeiçoamento diário, no desenvolvimento independente das condições nas quais fomos criados/educados, no que faremos com que fizeram de nós, em como iremos reagir quando finalmente formos confrontados com a realidade de ser.

Na verdade somos tudo isso... tenho em mim eu e você, e também tenho ele e ela, tenho o passado e o presente... também tenho o futuro..., tenho em mim todo os sentimentos do mundo. 
Já vi uma criança chorar de dor, já vi velhos chorarem de pavor, já senti um abraço de amor, já perdi, já ganhei, chorei, sorri, já tive medo, desespero mas também já gargalhei na praia ao por-do-sol... sou aquela criança que lia livros encima da arvore mas, que tinha pesadelos e acordava chorando; que sofria bullying na escola e que por causa disso praticava também; sou o menino que já precisou pedir comida e também já gastou muito em uma noite em um jantar muito tempo depois; sou quem tem traumas irreparáveis e sente dores excruciantes na alma mas lida com isso e ainda permanece vivendo da melhor maneira possível; sou uma perdedora que permanece lutando porque não aceita perder. 

É, se eu pudesse, diria que a única coisa que tem o poder de unir os retalhos dos quais somos compostos é fé... sem ela faz sentido... sem ela as flores não ganham cor, os dias cinzas não parecem bonitos e o inverno parece não ter fim; sem a fé que motivo temos para continuar? Mas quando ela está presente, mesmo os becos sem saída transformam em oportunidades, as decepções tem cara de recomeço; através dela se é possível chorar de felicidade enquanto sente o coração arder de esperança e certeza de que tudo está como deveria ser.
No fim, tudo é uma questão de como você encara as situações, de como escolher lidar com as coisas... Somente você pode decidir como as experiencias irão impactar a sua vida... Porém, se tiver fé de que tudo acontece por um motivo que visa seu amadurecimento, seu bem... então terá forças para enfrentar e sobreviver as situações mais difíceis se tornando melhor como pessoa do que era antes... Se tiver fé, nunca estará sozinho.




domingo, 24 de fevereiro de 2019

O desafio na floresta

Após uma semana cheia de pressões e expectativas, expectativas de mudança e reviravoltas mirabolantes, de incertezas e indefinições, os questionamentos fluem na velocidade do pensamento...
As expectativas serão frustradas? as pressões irão servir para revelar o diamante?... A mente luta para manter tudo sob controle... Só o tempo irá confirmar as suas reações e ações perante os acontecimentos de agora.
Como você se comporta ante situações adversas? costumo dizer que existem três tipos de perfis de pessoas reagindo aos acontecimentos... os que que entram em negação esperando que as coisas resolvam-se por si só independente de quais forem as consequências, as que optam pela fuga e com isso esperam que os problemas desapareçam ou da mesma forma que o primeiro grupo "se resolva sem sua intervenção" e, há um terceiro e menor grupo que, apesar da dor e incerteza encara o diferente e tenta fazer dele o melhor que puder ser com o que se apresentar.
Seriam como três pessoas em uma floresta ante à um grupo de ursos furiosos e famintos, um deles seria devorado primeiro, o segundo teria alguma vantagem já que começou a correr enquanto os ursos se alimentavam porém, a vida em fuga é muito cansativa e fingir que os ursos não estão ali não os fariam desaparecer então, logo este segundo também é engolido pela selvageria da vida, destroçado e abandonado aos seus fracassos. O terceiro elemento no entanto seria o único com chances reais de sobrevivência pois, se escolher se adaptar às mudanças e desenvolver novas estratégias de acordo com o cenário se desenrolando poderá evoluir a ponto de caçar o caçador. Veja bem que usei o termo "escolher" pois de nada adianta as mais favoráveis condições se não houver a decisão.
Todos nós nascemos sob condições em que não temos alternativa, crescemos num ambiente no qual temos pouca ou nenhuma influencia mas, no momento em que nos tornamos adultos nos deparamos com situações que nos desafiam o posicionamento, estimulam a maturidade e, eventualmente nos evidenciam para a sociedade. Não necessariamente esse deva ser nosso objetivo pois afinal o que realmente importa é ter um, independente de qual seja mas, quando não o temos acabamos por nos tornar parte do rol dos que são "engolidos" pelos ursos da vida.
O que você vai fazer e como vai reagir perante às situações vai definir não só quem você é por fora mas também por dentro... a escolha está em nossas mãos e não em todas as desculpas que a sociedade nos disponibiliza para nossos fracassos como que ao toque de um "google".
Algumas coisas resolverão seus problemas de forma paliativa como, ligar para um amigo ou acionar a sua mãe, mas vai chegar um dia e, ah! esse dia vai chegar! essas pessoas não estarão mais ali (por N motivos) para ouvir seus lamentos ou "consertar" seus erros , e nesse dia (peço à Deus!) você vai obrigatoriamente ter que crescer! Você é capaz eu sei, mas depois de tanto tempo protelando o inevitável e se, você teve a sorte de sobreviver até aqui, confesso que vai ser pior do que se tivesse encarado quando o problema apareceu da primeira vez... Agora ele já está grande, alimentado e morando no seu armário... ele já é parte da família, de você!
Não, não vai ser fácil mas sim, será muito gratificante quando você finalmente se libertar da algemas do pensamentos e influência de outros e assumir o protagonismo de sua vida. Muitas gente quer ser rica mas poucos querem estudar ou trabalhar arduamente como 90% do milionários da atualidade, além do que parece que quanto mais mesquinho se é mais paupérrimo se fica. Amadurecer é um progresso, um aprimoramento constante, um estado de espírito... é não ser para depois ser.
Alias, muita gente do primeiro e segundo grupo querem comer carne de urso mas não querem ter o trabalho de caçar... esses são os que constantemente ser tornam protetores de animais quando na sua verdadeira essência são apenas pessoas frustradas tentando dissimular sua incompetência e projetar suas frustrações em seus objetos referência de sucesso, tentando impedi-los de alcançar o que eles mesmos não tem disposição para atingir.
Que tal ignorar todas as adversidades e viver "um dia de cada vez"? "matar um urso por dia"? Não pra ninguém além de você; o prazer pessoal, o crescimento que trará e a experiência que agregará é inegável e inestimável.... E, além do mais, saber que não se é "igual" a maioria é parte importante da satisfação pois o reconhecimento vem de forma natural quando ser é a definição de quem você se tornou.