sábado, 30 de março de 2019

Ensaio rápido sobre egoísmo

Vou começar dizendo que o egoísmo deveria mover o mundo, mas calma você logo vai entender (eu espero).
O que vemos por aí aos montes hoje em dia se trata de outra coisa: mesquinharia. Pessoas se aproveitando das outras, trapaceando para obter benefícios a qualquer custo, usurpando ideias e oportunidades que não lhes cabe pois acreditam que tudo é seu por direito, sem mérito algum. Vivem como se pelo simples fato de estarem respirando o mundo lhes pertence, agem com um pedantismo extremo como se o restante da humanidade estivesse em uma dívida eterna para com eles.
Sabe quando você de fato pensa no outro? Quando pensa em você!
Quando pensa que tudo que você faz para o outro vai voltar pra você em dobro, quando internaliza que no futuro pode precisar deste que hoje não te representa nenhum tipo de "ganho", quando concebe a ideia de que a vantagem não vem agora mas talvez pode vir em forma de reconhecimento.
Fazer as pessoas felizes, surpreender alguém, ser gentil, dar valor... se não puder fazer pensando no outro... faça por você! seja egoísta! seja bom por egoísmo, eu te desafio! seja tão egoísta à ponto da sua bondade e gentileza afetar tão positivamente a vida das pessoas que o maior beneficiado será ninguém menos que - pasmem! - você mesmo!
Quanto mais mesquinhos formos, mais infelizes e frustrados seremos; a medida que tentamos salvar a nós mesmos nos perdemos mas, e se salvar o outro for a nossa salvação?
Se soubéssemos o poder positivo de retorno que nossas atitudes para com o próximo tem na nossa vida, não nos cansaríamos de fazer o bem.
Talvez se começarmos a pensar em como fazer o bem real para o outro nos faz bem, possamos ser mais egoístas e menos mesquinhos. Dessa forma uma sociedade egoísta faria de fato um mundo melhor.




sábado, 23 de março de 2019

Pra ler em voz alta

Quanto mais subo, desço... Quanto mais me acho, me perco... Ao mesmo tempo que ganho, perco... Quanto mais me esforço, menos alcanço o que me proponho... quanto mais sei, menos compreendo... 
Aos poucos vou perdendo o valor que me dou... sempre há uma palavra, uma atitude, alguém para desmerecer uma conquista, uma descoberta, um feito... E a cada dia fica mais latente o fato de que nunca se é suficiente... então como ser suficiente para si mesmo ao passo que não se é para aqueles que você considera de alguma forma importante na sua vida?
E nesse processo quanto mais me diminuo menos me encaixo, porque nunca se é o bastante... parece que quanto mais me aproximo de mim, mais distante estou... sempre correndo atrás do inatingível...
E então, cada um em seu caminho tentando salvar o outro do tormento eterno e lhe proporcionar a salvação, traz a sua visão de mundo de acordo com as suas experiências. No esforço desesperado de alcançar o próximo, acabamos por machucar, ferir, abordando de maneira inadequada e até falando o que não deveria. Na melhor das intenções, as vezes ao invés de ganhar acabamos por perder completamente.
Me disseram que para cada resposta um mundo de novas perguntas se desenhavam então, porque fazer perguntas complexas quando a vida é suficientemente complicada? Talvez a melhor resposta seja não fazer pergunta alguma.
Não é sobre justificar as atitudes do outro mas, escolher como elas irão afetar a nossa passagem. E nessa luta entre entender e sentir, me perco... e sem perceber, as vezes me rendo chantagem de não ser, de buscar moldar-me à forma do que procuram sobre mim... Nesse turbilhão de sentimentos esqueço que cada um tem sua própria expectativa e, que nem que vivesse mil vidas poderia alcançar todas elas.
O que pensam à meu respeito não deveria me definir eu sei, mas quando se vive toda um existência em torno de expectativa é inevitável não se sentir afetado por... 
Breve virá o dia, e posso sentir, em que a maturidade finalmente despertará o nosso lado mais responsável e consciente onde a percepção das pressões terá o peso exato que tiver que ter, a opinião das pessoas terá o justo valor que nos couber e, nós daremos a nossa contribuição à sociedade nada mais do que pudermos oferecer, independente do que "eles" quiserem aceitar.
A verdade é clara, nada que proporcionamos será suficiente para aqueles que decidiram viver se aproveitando dos que acreditam não ter nada a disponibilizar. Nos escravizam, por que deixamos... Usam a nossa intelectualidade, pois permitimos... Usurpam nossa capacidade porque nos fazem acreditar não sermos capazes de produzir... de ser!...
Até quando permitiremos que nos façam sentir como se o mundo não fosse nosso por direito? Até quando os nossos cometerão suicídio por achar que não se enquadram? Até quando sentiremos forasteiros e seremos banidos de uma terra que nos pertence por direito? Somos tantos, mas estamos tão dispersos a ponto de não perceber a nossa força.
Infelizmente muitas covas ainda verão precocemente homens/mulheres fortes, formadores de opinião, personalidades capazes de mover a massa, almas com talento para mover o mundo e incapazes de suportar a própria dor excruciante para posteriormente tocar multidões... 
Tudo está em como se lida com a agonia e as frustrações e, então ensina os mais frágeis com lidar com a situação... você pode fazer isso?
Você pode sobreviver e continuar para contar à quem vem logo atrás como fazê-lo?



















sábado, 2 de março de 2019

Serena incompletude

Já se perguntou algum dia "quem sou eu"? Parece uma pergunta fácil mas, é cheia de profundidade e significado se pensada da maneira correta. Afinal, pense em todos que de alguma forma o ajudaram a compor a personalidade que tem hoje.. Sua família (estruturada ou não), os colegas da escola, aquele professor difícil, o namoradinho da adolescência, o bullying que sofreu, um ente querido que se foi cedo demais, um trauma que só você sabe...
O que contribuiu para definir quem você se tornou? as dificuldades que passou quando criança ou as batalhas que enfrentou quando já adulto? E o principal... você se sente satisfeito com isso?
As vezes temos tanto medo de tomar as decisões necessárias que transformamos nossas vidas em um inferno de - se's - que nos assombram até o fim de nossas vidas quando uma simples dor momentânea pode mudar qualquer curso que pareça inevitável. A dor é necessária para o crescimento; não podemos optar pelo "não-sofrimento" quando crianças, talvez seja por isso que aprendamos tanto e tão rápido; mas na vida adulta passamos a fugir dos problemas que nos fariam continuar evoluindo. O que te faz sentir mais impotente, quando outras pessoas lutam suas guerras ou quando você se retira porque tem medo da derrota?

Talvez no fim, todas as batalhas que travou, todas as experiências que acumulou não servirão de nada além de ter proporcionado uma passagem tranquila e mais confortável por esta vida... 
- Será que vale a pena? parece pouco... - alguém diria, mas ao olhar para as pessoas que permanecem "presas" nas primeiras fases e "jogam" uma vida sem desfrutar os desafios e as recompensas do níveis mais elevados, percebemos o quão melancólica é uma vida batendo sempre na mesma tecla; uma vida vendo as mesmas cores e cenários, cometendo os mesmos erros e sem nunca achar a saída.
Além disso, que graça teria passar uma existência sem experiência, sem aprender ao máximo o que podemos... sem usufruir das benécias da evolução pessoal? O desafio está no aperfeiçoamento diário, no desenvolvimento independente das condições nas quais fomos criados/educados, no que faremos com que fizeram de nós, em como iremos reagir quando finalmente formos confrontados com a realidade de ser.

Na verdade somos tudo isso... tenho em mim eu e você, e também tenho ele e ela, tenho o passado e o presente... também tenho o futuro..., tenho em mim todo os sentimentos do mundo. 
Já vi uma criança chorar de dor, já vi velhos chorarem de pavor, já senti um abraço de amor, já perdi, já ganhei, chorei, sorri, já tive medo, desespero mas também já gargalhei na praia ao por-do-sol... sou aquela criança que lia livros encima da arvore mas, que tinha pesadelos e acordava chorando; que sofria bullying na escola e que por causa disso praticava também; sou o menino que já precisou pedir comida e também já gastou muito em uma noite em um jantar muito tempo depois; sou quem tem traumas irreparáveis e sente dores excruciantes na alma mas lida com isso e ainda permanece vivendo da melhor maneira possível; sou uma perdedora que permanece lutando porque não aceita perder. 

É, se eu pudesse, diria que a única coisa que tem o poder de unir os retalhos dos quais somos compostos é fé... sem ela faz sentido... sem ela as flores não ganham cor, os dias cinzas não parecem bonitos e o inverno parece não ter fim; sem a fé que motivo temos para continuar? Mas quando ela está presente, mesmo os becos sem saída transformam em oportunidades, as decepções tem cara de recomeço; através dela se é possível chorar de felicidade enquanto sente o coração arder de esperança e certeza de que tudo está como deveria ser.
No fim, tudo é uma questão de como você encara as situações, de como escolher lidar com as coisas... Somente você pode decidir como as experiencias irão impactar a sua vida... Porém, se tiver fé de que tudo acontece por um motivo que visa seu amadurecimento, seu bem... então terá forças para enfrentar e sobreviver as situações mais difíceis se tornando melhor como pessoa do que era antes... Se tiver fé, nunca estará sozinho.




domingo, 24 de fevereiro de 2019

O desafio na floresta

Após uma semana cheia de pressões e expectativas, expectativas de mudança e reviravoltas mirabolantes, de incertezas e indefinições, os questionamentos fluem na velocidade do pensamento...
As expectativas serão frustradas? as pressões irão servir para revelar o diamante?... A mente luta para manter tudo sob controle... Só o tempo irá confirmar as suas reações e ações perante os acontecimentos de agora.
Como você se comporta ante situações adversas? costumo dizer que existem três tipos de perfis de pessoas reagindo aos acontecimentos... os que que entram em negação esperando que as coisas resolvam-se por si só independente de quais forem as consequências, as que optam pela fuga e com isso esperam que os problemas desapareçam ou da mesma forma que o primeiro grupo "se resolva sem sua intervenção" e, há um terceiro e menor grupo que, apesar da dor e incerteza encara o diferente e tenta fazer dele o melhor que puder ser com o que se apresentar.
Seriam como três pessoas em uma floresta ante à um grupo de ursos furiosos e famintos, um deles seria devorado primeiro, o segundo teria alguma vantagem já que começou a correr enquanto os ursos se alimentavam porém, a vida em fuga é muito cansativa e fingir que os ursos não estão ali não os fariam desaparecer então, logo este segundo também é engolido pela selvageria da vida, destroçado e abandonado aos seus fracassos. O terceiro elemento no entanto seria o único com chances reais de sobrevivência pois, se escolher se adaptar às mudanças e desenvolver novas estratégias de acordo com o cenário se desenrolando poderá evoluir a ponto de caçar o caçador. Veja bem que usei o termo "escolher" pois de nada adianta as mais favoráveis condições se não houver a decisão.
Todos nós nascemos sob condições em que não temos alternativa, crescemos num ambiente no qual temos pouca ou nenhuma influencia mas, no momento em que nos tornamos adultos nos deparamos com situações que nos desafiam o posicionamento, estimulam a maturidade e, eventualmente nos evidenciam para a sociedade. Não necessariamente esse deva ser nosso objetivo pois afinal o que realmente importa é ter um, independente de qual seja mas, quando não o temos acabamos por nos tornar parte do rol dos que são "engolidos" pelos ursos da vida.
O que você vai fazer e como vai reagir perante às situações vai definir não só quem você é por fora mas também por dentro... a escolha está em nossas mãos e não em todas as desculpas que a sociedade nos disponibiliza para nossos fracassos como que ao toque de um "google".
Algumas coisas resolverão seus problemas de forma paliativa como, ligar para um amigo ou acionar a sua mãe, mas vai chegar um dia e, ah! esse dia vai chegar! essas pessoas não estarão mais ali (por N motivos) para ouvir seus lamentos ou "consertar" seus erros , e nesse dia (peço à Deus!) você vai obrigatoriamente ter que crescer! Você é capaz eu sei, mas depois de tanto tempo protelando o inevitável e se, você teve a sorte de sobreviver até aqui, confesso que vai ser pior do que se tivesse encarado quando o problema apareceu da primeira vez... Agora ele já está grande, alimentado e morando no seu armário... ele já é parte da família, de você!
Não, não vai ser fácil mas sim, será muito gratificante quando você finalmente se libertar da algemas do pensamentos e influência de outros e assumir o protagonismo de sua vida. Muitas gente quer ser rica mas poucos querem estudar ou trabalhar arduamente como 90% do milionários da atualidade, além do que parece que quanto mais mesquinho se é mais paupérrimo se fica. Amadurecer é um progresso, um aprimoramento constante, um estado de espírito... é não ser para depois ser.
Alias, muita gente do primeiro e segundo grupo querem comer carne de urso mas não querem ter o trabalho de caçar... esses são os que constantemente ser tornam protetores de animais quando na sua verdadeira essência são apenas pessoas frustradas tentando dissimular sua incompetência e projetar suas frustrações em seus objetos referência de sucesso, tentando impedi-los de alcançar o que eles mesmos não tem disposição para atingir.
Que tal ignorar todas as adversidades e viver "um dia de cada vez"? "matar um urso por dia"? Não pra ninguém além de você; o prazer pessoal, o crescimento que trará e a experiência que agregará é inegável e inestimável.... E, além do mais, saber que não se é "igual" a maioria é parte importante da satisfação pois o reconhecimento vem de forma natural quando ser é a definição de quem você se tornou.


domingo, 4 de novembro de 2018

Espaços Vazios

Num dia qualquer você se dá conta que o tempo passou... tão rápido que você cresceu, tomou responsabilidades (ou não!), guardou muito de si, outras coisas deixou, adicionou coisas novas... E hoje, Quando se vê refletido no espelho, a criança em você sorri ou chora? As escolhas que fez, te deixaram mais perto ou mais distante da redenção do que quando começou essa caminhada?
Aceitar que alguns momentos não foram feitos para durar não ameniza a dor dessa realidade, aceitar que a missão de algumas das pessoas que mais aprendemos a amar é passar e não ficar, também não. É como conviver com um espinho na carne, talvez esse seja o meu.
Aprender a lidar com as lacunas que ficam quando alguém sai da nossa vida, tem parecido uma tarefa um tanto árdua. Começo a achar que todo propósito está ligado a um sacrifício. Somos conectados espiritualmente a outros seres em determinados momentos da vida para completar uns aos outros e acrescer, aí está o propósito... quando a missão está completa, a lição aprendida e a energia equilibrada para que ambos continuem sua viagem há a desconexão, aí está o sacrifício.
Pessoas vem, vão, mudam... significam... E o fato de continuarem significando pra você não as impede de seguirem seu caminho; nem deveria, mas nesse segundo de egoísmo esperamos que ao menos em algum momento também sejamos lembrados.
Talvez a coisa mais difícil com a qual tenhamos que lidar seja com aquelas situações em que não há despedida. O vazio que fica abre espaço para sentimentos tão fortes de perda que nos deixam vulneráveis. Alguém devia proibi-los de ir embora sem dizer Adeus! 
Por muitas vezes quando estamos feridos, como feras acuadas queremos machucar os outros para quem alguém partilhe a nossa dor, o nosso sofrimento. Nesse gesto instintivo de auto defesa, ao menor indício de perigo ou simplesmente para canalizar a própria angústia vociferamos o quanto somos bons e autossuficientes, bradamos a plenos pulmões as fragilidades do outro e, num jogo desleal e injusto, numa tentativa desesperada e ilógica de criar alguma empatia devastamos tudo que há pela frente. Falamos alto para tentar calar as vozes dentro de nós mesmos que insistem em dizer que algo está errado e, por esse motivo pessoas são magoadas por vezes causando danos irreparáveis.
Quando adquirimos de fato a capacidade de perdoar então poderemos ser perdoados; E mesmo quando não tínhamos consciência, ao tomar ciência se tivermos coragem de nos colocar em posição de humildade ante aquele a quem fizemos mal poderemos obter alguma paz.
Difícil compreender o que é o tormento de uma alma esgotada em busca de remição... quantas vidas serão necessárias para se alcançar a plenitude? Ao que parece ela só vem através de sabedoria, e a sabedoria com a experiência... muito dessa segunda, que produz a primeira, só vem através de sofrimento. Isso porque aprender e se deixar moldar pelo que de fato a vida tem pra nos ensinar só conseguimos a duras penas.
Compreender e aceitar não são parentes tão próximas quanto pensamos, mas podem trabalhar bem juntas quando nos resignamos a aceitar que existem muitos mais caminhos do que podemos supor e que, os espaços que julgamos vazios na verdade são campos arados para o próximo plantio.




sábado, 27 de outubro de 2018

A mudança que eu quero... Ser!

Hoje determinada situação me levou a refletir com curiosidade sobre o quanto as mudanças nas pessoas estão desacreditadas em nosso tempo. O verbo "mudar" se tornou banal e sem significado, fazendo com que absorvêssemos parte desse sentimento de insignificância embora a palavra seja muito utilizada. Deixamos de sentir a relevância, o peso real e, passamos a querer 'ver' sem querer 'ser'.
Afinal quem você é hoje se comparado à você do mesmo período do ano passado? A vida é um constante aprendizado e por isso deveríamos estar em contínuo movimento de evolução enquanto seres pensantes... Nossas experiências adquiridas, lições aprendidas, as decepções, os fracassos...tudo tem um papel fundamental no nosso desenvolvimento pessoal.
Não é preciso ir muito longe... a garota que acordou numa manhã qualquer há três anos atrás passou durante esse tempo por um turbulento processo interior que mudou por completo sua vida. E mudou muito, no sentido de metamorfose mesmo, transformar o que já existia, quem já existia... Se foi fácil? Nunca passei momentos tão difíceis na minha vida! Se escolheria não vivê-los? Eu teria o aprendizado sem eles? Então não! É como atravessar um longo deserto com pouca água e em seguida cruzar um dos polos com roupa suficiente apenas para sobreviver mas, depois chegar no destino e perceber que valeu a pena cada passo dado apesar da dificuldade.
E você, tem se vestido com esse "eu" há quanto tempo? Quanto tempo faz que você não aceita uma ideia nova, não se propõe a aprender uma nova lição, não reconhece um erro, não se dispõe de verdade a fazer algo novo? Faltam oportunidades para testar uma atitude diferente, para experimentar uma postura inédita? Me pergunto se as pessoas pessoas não cansam de usar suas ideias velhas e rasgadas as vezes... suas linhas de raciocínio tão puídas e frágeis... e aqui falo do todo!
Espíritas acreditam que são necessárias até mais de uma vida para se trilhar o completo caminho do auto conhecimento, Budistas dizem praticamente a mesma coisa com relação ao nirvana e, você aí usa a mesma roupa de "você" que usava há 10 anos atrás, há 5, há 3? Lamento tanto por você!
Nos desafio a despir cada dia mais do ceticismo que insiste fortemente em nos prender aos velhos hábitos e pensamentos e, acreditar mais na nossa capacidade de lidar com o novo, o diferente. E aqui quando falo em novo e diferente, estou falando no campo real das ideias, da metafísica, da discussão humana... falo de você... você novo e diferente!



domingo, 21 de outubro de 2018

Ao meu amigo distante

Escrevo-te estas rápidas palavras para que do teu dia não roube muito tempo, busco através desta apenas saber como você está. Num âmbito geral se trata disso, me certificar que você está bem, que vai ficar, que está/será feliz. 
Já não sei se faz alguma diferença dizer me angustio em pensar no quanto pode ter precisado de mim em todo esse tempo no qual não temos nos falado, se também desejou ter com quem conversar e eu não estive lá, falhei com você, sei disso.
Ainda sou nova nessa coisa de respeitar a individualidade do outro, não sei qual o momento certo de recuar/avançar; devo ter cometido milhões de erros e, apesar de nunca tentar esconder nenhuma de minhas inúmeras debilidades, em algum momento devo ter enfiado os pés pelas mãos pois minha insegurança aumenta na proporção da afeição que sinto causando desastres catastróficos, sempre foi assim. Essa é a parte que lamento a minha falta de competência em ser suficiente pra você.
Por diversas vezes eu quis invadir o seu espaço, não quis te dar espaço nenhum, eu precisava de você por perto mas, de alguma forma sabia que tinha te machucado mesmo que sem intenção e, por isso era minha obrigação respeitar esse seu tempo, te devia isso...
Contei as mais diversas estórias, inventei as mais variadas desculpas pra mim mesma e assim conseguir ter forças para me manter longe... pra te deixar seguir o seu caminho mas, no lugar da despedida você disse apenas um até breve...
Desde então tenho esperado mas, os dias continuam passando e você não volta, parece que nunca mais vai voltar... e eu sinto tanto a sua falta!
Você não vai voltar né? Nada nunca vai ser como era... eu sei... mas ainda estou no aguardo de um novo acordo, preciso saber... se chegou a hora de sofrer as dores do luto, de chorar as lágrimas do adeus; se agora for a hora de guardar com carinho tudo que foi bom e continuar tentando aceitar que as vezes a nossa cabeça dá uma dimensão diferente pras coisas do que elas realmente tem eu prometo ser forte e não borrar a maquiagem na frente de ninguém.
Se fecho os olhos ainda posso sentir a leveza de espírito que senti ao caminharmos no parque pela primeira vez, as risadas e até a seriedade serena enquanto por mais de uma vez conversamos sobre tudo e sobre nada, o abraço de alento e segurança, a palavra certa e o silêncio no momento necessário. Escrevo-te para que haja registro da relevância da nossa amizade mesmo quando aqui não mais estivermos. 





domingo, 26 de agosto de 2018

A miséria de não ser

Apesar de desconhecer a realidade das gerações anteriores, especulo que nunca se viveu em uma época onde se tem tanto e não se tem nada. Tão cheios de certezas e razões... tão vazios de valores e moral... ó como somos miseráveis!
Tão fartos de potencial e capacidade... tão desprovidos de sentido real e objetivo...
Gastamos todo o nosso tempo e energia correndo atrás de coisas que não nos acrescentam, coisas que vamos usar para sermos aceitos pela sociedade, coisas que usamos pra tentar suprir nossa necessidade de ser, de sentir... Coisas que deixamos de lado no minuto seguinte após conquistar.
Possivelmente a libertação real consiste em se desvencilhar da expectativa dos outros. E porque não reavaliar a sua própria?
Que desafio é esse...o de viver!
Temos seguido diariamente como bonecos de corda, sendo alimentados pelo ódio, pelas disputas, pela necessidade de provar algo... em buscas fúteis e sem significado real, resumido à uma procura incessante pelo "não se sabe o que". Nos cercamos das mais diversas frivolidades, numa fuga contínua para longe da culpa, da falta de aceitação, da solidão.
Aos poucos a vida vai esmaecendo, reduzida à contínuos e extenuantes jogos de poder, relacionamentos superficiais de interesse puro e simples, e rotinas sem significado.
Temos sido o melhor exemplo de ser humano que podemos ser? Talvez haja uma predisposição genética não sei, mas a convivência nessa sociedade mesquinha faz com que acabemos por nos envolver e nos contaminamos com as mesmas práticas que abominamos, por fim nos tornamos cada dia mais as referências que detestamos, sem nos dar conta disso. Numa corrida alucinada em busca de redenção - completamente perdidos - nos direcionamos em velocidade terminal rumo ao abismo.
Quem sabe compreender o sentido da vida seja concluir que ele não existe e, aceitar isso pode ser libertador. Finalmente admitir que todo esse sofrimento... toda esse rotina em busca do ter...do ser... nada disso tem mesmo cabimento.
Afinal, parece que estar ou não aqui, não faz diferença. Essa rotina alucinada vai continuar sem você e sem mim e, após duas gerações, ninguém se lembrará que passamos por aqui.
É difícil assumir que provavelmente as pessoas amadas ficarão melhor sem sua presença questionadora, sem seu flerte constante com a escuridão, sem sua alma inquieta, inconstante e desordenada, e que a paz interior que procura, só diz respeito à você.



sábado, 16 de junho de 2018

O preço do tempo

Mais uma vez ela observa a lenta transição do dia que se despede para a noite que se aproxima, como num balé as cores fracas se misturam no céu de inverno. Ali parada próximo a porta, naquele fim de tarde gelado, por um instante em meio a correria diária, como que acordada brevemente do seu transe pessoal se vê refletindo sobre a brevidade da vida. Percebe que é inevitável tentar conter o questionamento que sempre vem à tona com força sobre-humana nesses momentos... Qual o sentido da vida?
Naquele aniversário chuvoso sentou-se na no banco frio da praça e sob sua árvore favorita se perguntou porque sempre fazia tudo errado... porque não havia sido suficiente? Agora, observando o sol se pôr entre aquelas grades... torcia para que tudo fizesse sentido um dia.
Pensava no preço do tempo e no quando ele é implacável, sabia o quanto a responsabilidade exigia e se perguntava como manter um equilíbrio aceitável entre viver e sobreviver. Sem perceber, enquanto pensava o tempo já escorria por entre seus dedos.
Naquela decisiva tarde cinzenta entrou numa igreja, sem forças e aos prantos rezou para que, embora não fosse suficiente houvesse misericórdia. 
Quando nos tornamos adultos, algumas decisões a serem tomadas não parecem justas e,  parece mesmo que somos todos crianças assustadas afinal; todas interpretando um papel assumido sem instruções, uns escondendo melhor que outros seus medos porém, cada tentando seu melhor... 
Definitivamente é uma geração que não foi feita para envelhecer... fomos criados como desbravadores porém, mais tarde ensinados que a juventude era a resposta, que a sabedoria de nossos antepassados não valia nada e se negar à responsabilidade significaria que não precisaríamos tê-la. Fomos tão devastados por ensinamentos equivocados que nos permitimos ser invadidos por crenças e ideologias que nos levaram para longe da sensatez... para longe de qualquer lugar onde se pudesse encontrar algum tipo de equilíbrio. No desespero de ser, na expectativa preencher e dar sentido à essa existência vazia recorremos à satisfação temporária de toda sorte de futilidades. Viemos tão puros e cheios de potencial mas, de alguma forma fomos arruinados... eramos tão capazes que fomos sabotados antes mesmo de saber disso.
Após um longo suspiro de olhos fechados repete para si mesmo que enquanto quem tem esperança "espera" que algo aconteça, quem tem fé tem a certeza de algo acontecerá. Por isso continua tentando, porque tem objetivos que vão além de si mesmo, porque apesar de machucada e ferida ainda se arrasta e torce para que o fato de continuar a leve à algum lugar; um lugar onde finalmente seus machucados serão tratados e então saberá de fato se sua missão terminou ou se apenas começou.




segunda-feira, 28 de maio de 2018

Ensaio sobre a atualidade

As gerações posteriores à nossa estão a cada dia nos surpreender... Suas dúvidas, inquietações... seus medos... sua forma de tentar escondê-los... a maneira como agem com auto suficiência pra não admitir suas fraquezas...
Por vezes dá vontade de sorrir, um sorriso nervoso que procura disfarçar a descrença na humanidade... um dar de ombros que busca insistentemente não ter lidar com a triste realidade que nos está sendo imposta.
Posso apenas presumir que a nossa geração e a anterior falharam miseravelmente na criação dos seus filhos. Deixaram para a sociedade pessoas egoístas e não sabem o que é respeito mas reivindicam a sensibilidade para com eles,  exigem que tudo seja feito à sua maneira e nos seu tempo, não tem compromisso com a ordem ou com regras pois eles mesmos as criam, não dão ouvidos à nada e nem ninguém pois são "senhores do seu próprio destino"... no entanto, avessos à toda essa bagunça, ousam em falar em maturidade, responsabilidade e liberdade.
Horrivelmente vemos adolescentes oriundos dos mais diversos tipos de lares chegando totalmente despreparados pra enfrentar a "selva" da vida; vemos pessoas sem defesas, sem bases... sem visão de futuro... e lamentavelmente, com um futuro medíocre pré-definido. Se vê tanta vontade de fazer o que julgam ser certo e quanto mais tentam, mais se perdem a cada passo nas suas crenças e, as suas convicções intransigentes os leva a trilhar o tão temido caminho que trilharam os que vieram antes deles.
Se adaptar à vida adulta é difícil sempre, mas a maneira como lidamos com isso faz com que sejamos pessoas melhores...não para ninguém além de nós mesmos, porém acaba refletindo em nossas ações e em como interagimos com os demais. Amadurecer efetivamente, espelha para fora um caráter incontestável de alguém que constantemente aprende com seus erros e se esforça para fazer diferente, que traz uma personalidade inquieta em busca de frequente aprendizado, um espírito que não se conforma com a prostração e indiferença... 
Talvez tenha sido essa a sensação que nossos avós tiveram quando nos viram dando os primeiros passos na sociedade... De qualquer forma, parece que nada foi tão extremo quanto o que está acontecendo atualmente, estaríamos nós deixando como legado o produto de nossa fraqueza e desprezível existência? Ou estaríamos trabalhando arduamente para, como nossos antepassados deixar de fato seres humanos com valores éticos e morais capazes de se sobressair em meio a esse "mais do mesmo"? Estamos de fato sendo fortes, guerreiros e lutando e ensinando os nossos também por meio do exemplo? ou estamos mostrando o quanto ser fraco e incapaz na nossa sociedade tem sido recompensador?
É só um pensamento, me corrija se estiver errada, mas ao mesmo tempo que sabemos o que precisamos ser e fazer, mais aumenta a sensação de que não há espaço para comportar as pessoas que trabalham constantemente pela evolução, em busca de uma maturidade real. Talvez essa não seja a nossa época... nem o nosso lugar...
Quem sabe amadurecer seja isso, entender que a maturidade não demanda uma definição ao pé da letra... é estar em uma busca incessante pelo desconhecido, pelas novas experiências, é não se contentar com a limitação da finitude.