sábado, 20 de agosto de 2016

A visita

Ele está sentado no canto da sala de estar, atravessa uma tarde fria e chuvosa, nenhum ruído além do barulho da chuva caindo no telhado ousa perturbar seu momento de reflexão.
Está só, não apenas se sente só mas, sabe que é assim que está, sempre esteve.
Tem tendências auto-destrutivas diz um, características de psicopatia diz outro; a verdade é que mesmo após muito tempo nessa jornada, após tanto aprendizado e conhecimento a respeito de si mesmo, se sente dolorosamente só. Quanto mais caminha, mais sozinho se encontra. 
Aparentemente perdeu a capacidade de tomar para si alguns sentimentos alheios, tudo parece tão claro que as pessoas são o produto de como vivem, do que pensam e de como agem. Não se vê no direito de julgar ninguém mas, tem a nítida impressão de que ele mesmo está errando em algum ponto desconhecido. Por que a vida teria tanto trabalho para faze-lo sentir-se miserável? Uma existência sem amigos é uma passagem vazia, eles disseram. Bem, pelo jeito não se pode ter tudo por aqui não é mesmo?!
A tristeza calmamente se apodera do seu corpo e, como que anestesiado pras coisas a seu redor é hipnotizado por ela e arrastado para o mais profundo do seu ser. Não há nada nos porões da sua alma que faça claro sentido, tudo que há lá são teias de aranha, escuridão, frio, memórias, fracassos... as razões para os momentos de solidão. Sempre cercado de todos e nunca conhecido de ninguém, "amado" por muitos mas sempre sozinho. Se coração bate devagar, no ritmo de uma música que se pôs a tocar no fundo de sua mente. Embalado pela melodia toma um demorado banho quente, tentando aquecer aquele lado obscuro de si mesmo onde só ele tem acesso; lentamente se veste e se prepara para dormir... sim, ainda é de tarde mas, ficar acordado só faz com que a tortura seja maior ainda.
É seletivo demais, criterioso demais, as pessoas não gostam dele de verdade. Ele sabe que precisa de amigos e, que se não os teve em todo esste tempo provavelmente não os terá mais. Pensando nisso adormece, esperando que quando despertar essa angústia já tenha ido embora, pelo menos por um tempo.


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