O clima está propício para tecer numa rede de idéias o vórtice de sensações que se pode ter apenas em um dia como este.
A chuva cai lentamente numa garoa fina mas insistente desliza suavemente sob o guarda chuva de cor escura que carrego; sob meus pés, a cada passo vejo as poças que se formam no chão e, enquanto escrevo ao som de uma boa música coreana, levo em torno de dez minutos unicamente para atravessar a movimentada rua que há no meu itinerário, porque hoje, somente hoje estou sem pressa. Com calma posso sentir a brisa espessa que os carros deixam pra trás enquanto passam apressados, numa rotina frenética atrás de um espectro que chamam de ideal; achando que estão vivendo mas, raramente param pra fechar seus olhos contra o vento e sentir o prazer que ele proporciona.
Há um acidente entre dois carros logo ali na esquina e após mais algumas passadas, outro quase acontece em minha frente; me perco pensando e procurando imaginar o motivo de tanta urgência, esta que pode resultar em uma viagem sem volta.
Maravilhas que apenas um dia de chuva nos oferece, uma análise sucinta e equilibrada de sobre como o ânimo humano está estranhamente ligado às alterações climáticas, uns mais que outros é bem verdade, porém todos respondem de alguma forma à este estímulo da natureza.
Chego ao meu destino e, imóvel enquanto aguardo, percebo a solidão que cada indivíduo impõe para si mesmo e como delimitam sua convivência com o próximo tornando sua própria existência mesquinha e isolada, sem deixar margem para interpretações adicionais, apenas isso.
Enquanto observo tantos carros estacionados com seus condutores confortavelmente assentados em um banco macio, quente e abrigados da chuva, chego a conclusão de que muitos deles jamais terão a percepção do que é depender apenas de si mesmo neste dia chuvoso; Valorizar o simples fato de estar viva e poder pensar me faz voar acima das nuvens de dificuldades que me são impostas todos os dias pela vida, a qual faz questão de nos mostrar diariamente como pode ser cruel quando aliada ao implacável tempo.
Já não chove mais, e a música que toca é um pop norte-americano, me trazendo de volta à realidade do dia-a-dia, dizendo que tenho que ir, porque nada se constrói parado.
Alguns momentos são peças únicas na linha de nossa existência. A solidão e a vida, dilemas da compreensão gerados e/ou solucionados unicamente pela escolha.
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